A previsão era que as chamadas ‘tarifas recíprocas’, que atingiram mais de 180 países, voltassem a valer nesta quarta-feira (9). Nesta segunda, o republicano enviou cartas a diversos países anunciando novas taxas, em uma tentativa de pressionar por acordos comerciais. Trump reacende guerra tarifária com ameaças a 14 países e a nações que se aproximarem do Brics
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta segunda-feira (7) o decreto que adia para 1º de agosto a data de retomada de seu tarifaço. A previsão era que as chamadas “tarifas recíprocas”, que atingiram mais de 180 países, voltassem a valer nesta quarta-feira (9).
Os EUA vêm tentando firmar acordos com seus principais parceiros comerciais — mas, até agora, chegaram a um entendimento prévio com apenas três países.
Em mais uma tentativa de pressionar pela conclusão das negociações, Trump enviou cartas a alguns países nesta segunda-feira informando a cobrança de tarifas a partir de 1º de agosto. As nações citadas até agora são:
África do Sul: taxa de 30%
Bangladesh: taxa de 35%
Bósnia e Herzegovina: taxa de 30%
Camboja: taxa de 36%
Cazaquistão: taxa de 25%
Coreia do Sul: taxa de 25%
Indonésia: taxa de 32%
Japão: taxa de 25%
Laos: taxa de 40%
Malásia: taxa de 25%
Myanmar: taxa de 40%
Sérvia: taxa de 35%
Tailândia: taxa de 36%
Tunísia: taxa de 25%
Além de cartas enviadas aos líderes das nações (veja abaixo os documentos), Trump falou sobre as tarifas em seu perfil na rede Truth Social.
O republicano já havia antecipado neste domingo (6) que os EUA enviariam cartas a seus parceiros comerciais, especificando os valores de taxas que esses países teriam de pagar caso não negociassem acordos com a maior economia do mundo.
Segundo a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, pelo menos 14 países receberiam os documentos. “Haverá cartas adicionais nos próximos dias”, acrescentou.
Os documentos enviados a Japão e Coreia do Sul seguem um padrão semelhante: Trump afirma que o gesto representa uma demonstração da “força e do compromisso” dos EUA com seus parceiros e destaca o interesse em manter as negociações, apesar do déficit comercial significativo.
“A partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Japão uma tarifa de apenas 25% sobre todos os produtos japoneses enviados aos Estados Unidos, separadamente de todas as tarifas setoriais”, informa a carta enviada ao primeiro-ministro japonês, Ishiba Shigeru.
“Entenda que os 25% são muito menos do que o necessário para eliminar a disparidade do déficit comercial que temos com seu país. Como é do seu conhecimento, não haverá tarifa se o Japão, ou empresas de seu país, decidirem construir ou fabricar produtos dentro dos Estados Unidos”, continua a carta, destacando que os EUA se comprometem a obter as aprovações necessárias de forma rápida.
“Se, por qualquer motivo, vocês decidirem aumentar suas tarifas, qualquer valor que escolherem será adicionado aos 25% que cobramos”, acrescenta Trump no texto.
A carta enviada ao presidente da Coreia do Sul, Lee Jae-myung, repete integralmente o conteúdo da mensagem destinada ao primeiro-ministro japonês — incluindo a imposição da tarifa mínima de 25% sobre os produtos sul-coreanos.
Presidente dos EUA, Donald Trump, envia carta ao primeiro-ministro do Japão impondo tarifas de 25% sobre produtos importados do país
Reprodução/Truth Social
Presidente dos EUA, Donald Trump, envia carta ao primeiro-ministro do Japão impondo tarifas de 25% sobre produtos importados do país
Reprodução/Truth Social
Trégua tarifária é prorrogada
O envio das cartas com a nova data de 1º de agosto confirma a prorrogação da suspensão das chamadas “tarifas recíprocas”, concedendo mais três semanas para a negociação de acordos bilaterais que evitem o tarifaço anunciado em abril.
A suspensão de 90 dias das tarifas impostas pelo republicano iria expirar nesta quarta (9). Até agora, Washington firmou apenas acordos limitados com o Reino Unido e o Vietnã. Trump também confirmou um acordo com a China, mas os termos ainda estão sendo avaliados pelos dois lados. A maioria dos países ainda tenta evitar as tarifas anunciadas, que podem variar entre 10% e 50%.
A União Europeia tenta evitar sobretaxas em áreas como agricultura, tecnologia e aviação, mas ainda enfrenta entraves nas negociações com os EUA. Japão, Índia, Coreia do Sul, Indonésia, Tailândia e Suíça também correm contra o tempo para apresentar concessões de última hora.
Trump também aumentou a ofensiva contra o Brics, grupo de países emergentes que inclui o Brasil, a Rússia, a China, a Índia, a África do Sul, os Emirados Árabes Unidos, o Egito, a Arábia Saudita, a Etiópia, a Indonésia e o Irã.
Também no domingo (6), o republicano afirmou que vai impor uma tarifa adicional de 10% a “qualquer país que se alinhar às políticas antiamericanas do Brics”.
“Não haverá exceções a essa política”, acrescentou.
Trump também não esclareceu o que considera “políticas antiamericanas” em sua publicação. Autoridades do governo americano dizem que não há um decreto sendo escrito e tudo depende dos próximos passos do bloco.
O Ministério das Relações Exteriores da China afirmou que “o uso de tarifas não serve a ninguém” e declarou que “se opõe ao uso de tarifas como ferramenta para coagir outros países”.
A Rússia também respondeu às declarações de Trump. “Vimos, de fato, essas declarações do presidente Trump, mas é muito importante destacar que a singularidade de um grupo como o Brics está no fato de que ele reúne países com abordagens e visões de mundo comuns sobre como cooperar com base em seus próprios interesses”, disse o porta-voz Dmitry Peskov.
Ele acrescentou que “essa cooperação dentro do Brics nunca foi e nunca será dirigida contra terceiros”.
A África do Sul seguiu a mesma linha. Para o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Chrispin Phiri, o Brics deve ser visto como um movimento em prol de um “multilateralismo reformado, nada mais”.
Segundo ele, “os objetivos do Brics são, principalmente, criar uma ordem global mais equilibrada e inclusiva, que reflita melhor as realidades econômicas e políticas do século 21”.
O Brasil ainda não se manifestou oficialmente.
Veja a carta na íntegra
Prezado Senhor Primeiro-Ministro:
É uma grande honra para mim enviar-lhe esta carta, pois ela demonstra a força e o compromisso de nosso relacionamento comercial, bem como o fato de que os Estados Unidos da América concordaram em continuar trabalhando com o Japão, apesar de terem um déficit comercial significativo com seu grande país. No entanto, decidimos seguir em frente com vocês, mas apenas com um comércio mais equilibrado e justo. Portanto, convidamos vocês a participar da extraordinária economia dos Estados Unidos, o maior mercado do mundo, de longe.
Tivemos anos para discutir nosso relacionamento comercial com o Japão e concluímos que devemos nos afastar desses déficits comerciais de longo prazo e muito persistentes, causados pelas políticas tarifárias e não tarifárias e pelas barreiras comerciais do Japão. Nosso relacionamento tem sido, infelizmente, longe de ser recíproco.
A partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Japão uma tarifa de apenas 25% sobre todos os produtos japoneses enviados aos Estados Unidos, separadamente de todas as tarifas setoriais. Produtos transbordados para evitar uma tarifa mais alta estarão sujeitos à tarifa mais elevada. Por favor, entenda que os 25% são muito menos do que o necessário para eliminar a disparidade do déficit comercial que temos com seu país. Como é do seu conhecimento, não haverá tarifa se o Japão ou empresas dentro do seu país decidirem construir ou fabricar produtos dentro dos Estados Unidos — e, de fato, faremos todo o possível para obter aprovações de forma rápida, profissional e rotineira — ou seja, em questão de semanas.
Se, por qualquer motivo, vocês decidirem aumentar suas tarifas, qualquer valor que escolherem será adicionado aos 25% que cobramos. Por favor, entenda que essas tarifas são necessárias para corrigir muitos anos de políticas tarifárias e não tarifárias e barreiras comerciais do Japão, que causaram esses déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos. Esse déficit é uma grande ameaça à nossa economia e, de fato, à nossa segurança nacional!
Estamos ansiosos para trabalhar com você como nosso parceiro comercial por muitos anos. Se desejar abrir seus mercados comerciais, até agora fechados, para os Estados Unidos e eliminar suas políticas tarifárias, não tarifárias e barreiras comerciais, poderemos, talvez, considerar um ajuste nesta carta. Essas tarifas poderão ser modificadas, para cima ou para baixo, dependendo do nosso relacionamento com seu país. Você nunca se decepcionará com os Estados Unidos da América.
Agradeço sua atenção a este assunto!
Com os melhores votos, subscrevo-me,
Atenciosamente,
Donald J. Trump.
Presidente dos EUA, Donald Trump, envia carta ao presidente da Coreia do Sul impondo tarifas de 25% sobre produtos importados do país
Reprodução/Truth Social
Presidente dos EUA, Donald Trump, envia carta ao presidente da Coreia do Sul impondo tarifas de 25% sobre produtos importados do país
Reprodução/Truth Social
Presidente dos EUA, Trump, em Iowa
REUTERS/Nathan Howard
