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sexta-feira, agosto 8, 2025
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Bamba gregário, Arlindo Cruz tomou partido do samba de alta qualidade

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Exímio tocador de banjo, Arlindo Cruz (1958 – 2025) deixa 795 sambas ao morrer aos 66 anos, oito anos após sofrer AVC que o tirou de cena
Marcos Hermes / Divulgação
♫ OBITUÁRIO
♬ É difícil dimensionar a grandeza da obra e do legado de Arlindo Domingos da Cruz Filho (14 de setembro de 1958 – 8 de agosto de 2025) tal o gigantismo do cancioneiro desse sambista da melhor qualidade, consciente do próprio valor.
“É porque meu samba é da melhor qualidade / De acordo com a maré, vou cantando novidade”, avisou o bamba carioca em versos do partido alto Da melhor qualidade (1985), composto por Arlindo em parceria com Almir Guineto (1946 – 2017) e lançado há 40 anos na voz da cantora Beth Carvalho (1946 – 2019), uma das principais intérpretes dos sambas de Arlindo Cruz.
Arlindo foi partideiro de mão cheia, exímio tocador de banjo (instrumento que herdou de Guineto) e um bamba gregário. Afilhado de Candeia (1935 – 1978), partideiro que o introduziu nas rodas de samba da escola Portela, Arlindo Cruz sempre somou. Desenvolveu irmandade com Zeca Pagodinho, avalizou a conversão de Maria Rita ao samba em 2007, compôs sambas-enredos para várias escolas do Carnaval do Rio de Janeiro e combateu a hierarquia entre sambistas mais tradicionais e pagodeiros de batida mais pop – divisão criada mais pelos críticos de música do que pelos sambistas – e promoveu uniões, estreitando laços e fazendo pontes.
De 1981 a 1992, Arlindo foi integrante do grupo Fundo de Quintal, matriz do pagode carioca que brotou farto ao longo da década de 1980. Ensaiou uma carreira solo com a edição do álbum Arlindinho em 1993. Mas viu que ainda não era hora e acabou formando dupla com Sombrinha, também ex-integrante do Fundo de Quintal. Lançou cinco álbuns com Sombrinha entre 1996 e 2002 até retomar a carreira solo com a edição do álbum ao vivo Pagode do Arlindo em 2003.
A partir daí, Arlindo Cruz cresceu aos olhos do público e apareceu na mídia como sambista popstar, fazendo shows em grandes espaços e alcançando outro patamar e status no mercado, sem jamais perder a humildade e o sorriso cativantes. O álbum Sambista perfeito (2006) foi o divisor de águas nessa fase áurea da carreira solo do artista.
Filho de pai policial que tocava cavaquinho, Arlindo herdou do pai o nome e o gosto pelo samba e pela boemia. Para garantir a segurança da família, até tentou carreira como militar da Aeronáutica antes de se curvar definitivamente à vocação musical que pautou a existência encerrada hoje, 8 de agosto, dia em que o bamba morreu aos 66 anos na cidade natal do Rio de Janeiro (RJ).
A rigor, Arlindo Cruz já estava fora de cena desde 17 de março de 2017, dia em que sofreu AVC hemorrágico e ficou impossibilitado de compor e fazer shows. Desde então, passou a levar vida quase vegetativa em contraponto a uma pregressa existência feliz e pontuada por excessos de álcool, comida e drogas.
Mas maior vício de Arlindo Cruz foi mesmo o samba. Foi parceiro de incontáveis sambistas, alguns da mesma dimensão dele, como Almir Guineto, Sombrinha e o compadre Zeca Pagodinho. Outros menores, mas elevados por Arlindo.
O samba foi o dom de Arlindo Cruz. E é o legado do bamba para a posteridade. O cantor, compositor e músico deixa 795 composições cadastradas no banco de dados do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) de direitos autorais. Entre estes 795 sambas, estão sucessos imortalizados na voz do povo.
Carregam o nome de Arlindo Cruz sambas eternos como Ainda é tempo pra ser feliz (1988), Bagaço da laranja (1986), Camarão que dorme a onda leva (1983), Casal sem vergonha (1986), Malandro sou eu (1985), Meu lugar (2006), O bem (2011), O que é o amor (2007), O show tem que continuar (1988), Samba de Arerê (1999), Saudade louca (1989) e Tá perdoado (2007).
São esses sambas, entre muitos outros, que perpetuarão o nome feito por Arlindo Cruz nas rodas com a chancela do povo. Arlindo Domingos da Cruz Filho foi bamba da melhor qualidade que agregou muito ao samba.

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