Departamento de Justiça dos EUA ouviu a ex-parceira e cúmplice do bilionário Jeffrey Epstein
A ex-namorada de Jeffrey Epstein, Ghislaine Maxwell, afirmou não acreditar que ele tenha se suicidado no depoimento que deu ao procurador-geral adjunto dos Estados Unidos, Todd Blanche, em julho.
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O teor do depoimento foi revelado nesta sexta (22) pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, como parte da estratégia do governo de Donald Trump de se distanciar do caso de Epstein, bilionário —de quem foi amigo— acusado de ter abusado de meninas de 14 anos e de operar uma rede de exploração sexual de menores.
Epstein, segundo o Departamento de Justiça, cometeu suicídio em 2019, enquanto aguardava julgamento. Ele se declarou inocente das acusações.
“Não acredito que ele tenha cometido suicídio”, disse ela, segundo as transcrições.
Ghislaine também afirmou nunca ter visto Trump em um “ambiente inapropriado” – o republicano e o bilionário, que era famoso por suas festas, eram amigos nos anos 90.
“Nunca testemunhei o presidente em qualquer situação inapropriada, de forma alguma. O presidente nunca foi inapropriado com ninguém. Trump sempre foi muito cordial e gentil comigo”, declarou.
Nesta sexta, ao falar na rede social X sobre a decisão de divulgar a íntegra do depoimento, Todd Blanche afirmou que ela foi tomada sob o “interesse da transparência”.
Desde que passou a ser pressionado sobre o caso Epstein, Trump vem tentando se distanciar da história e já se irritou diversas vezes com perguntas sobre ela.
Há pouco mais de um mês, em um post na rede Truth Social, o republicano chamou os rumores sobre a ‘lista de Epstein’, que há anos se espalham pelas redes sociais, de “farsa” e “bobagem”, e chegou a acusar os adversários da oposição, membros do Partido Democrata, de um “golpe”.
Jeffrey Epstein e Ghislaine Maxwell.
John Minchillo/Associated Press
Ghislaine foi condenada em 2021 por crimes relacionados ao tráfico sexual de menores, incluindo conspiração para aliciar meninas para abuso sexual, e cumpre pena de 20 anos de prisão.
Após o depoimento dado, em meio a uma tempestade política vivida por Trump, que foi pressionado até por aliados por causa do caso, ela recebeu direito à transferência para uma prisão de segurança mínima no Texas.
Veja outros trechos do depoimento:
Chantagens com fotos e vídeos
“Você já ouviu, quando estava presente em conversas que o Sr. Epstein estava tendo, ou outros estavam tendo, alguém acusá-lo de chantageá-los ou de tentar extorquir, por causa de algo que o Sr. Epstein sabia?”, perguntou Blanche.
“Não”, respondeu Maxwell.
Mensagem de Trump em livro
No dia 25 de julho, o jornal americano “The New York Times” divulgou uma foto do que seria uma dedicatória em que Donald Trump chama o bilionário Jeffrey Epstein de “o maioria” e afirmou que, apesar do presidente americano negar, também deixou uma mensagem para o então amigo em um livro feito em homenagem ao 50º aniversário dele em 2003.
No depoimento, Blanche perguntou se ela se lembrava dos nomes das pessoas que enviaram cartas, mas ela foi evasiva: “Faz tanto tempo. Quero te contar, mas não me lembro”.
Relação de Trump e Epstein
Maxwell disse que Epstein e Trump eram “amigáveis” um com o outro, mas que não achava que “fossem amigos próximos”.
Epstein fonte do FBI?
Questionada se ela sabia se Epstein se comunicava com agentes do FBI como fonte, Ghislaine disse que não e que, se ele realmente fosse, provavelmente teria contado para se gabar disso:
“Acho que, se fosse verdade, ele teria se gabado disso para mim, como uma forma de se exibir, porque ele podia ser exibido. E, se não fosse, talvez ele tivesse mencionado como se fosse algo legal. E eu não me lembro dele fazer nenhuma das duas coisas”.
Epstein e Bill Clinton
Blanche perguntou a Maxwell se Bill Clinton já havia ido à ilha particular de Epstein nas Ilhas Virgens Americanas:
“Ele nunca, absolutamente nunca, foi e posso ter certeza disso, porque não tinha como ele ter ido. Não acredito que ele teria ido para a ilha se eu não estivesse lá. Porque não acredito que ele tivesse uma amizade independente, por assim dizer, com Epstein”.
Trump disse repetidamente — inclusive mais cedo hoje — que Clinton visitou a ilha “28 vezes”. Clinton negou ter ido lá.
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Entenda o que é a ‘lista de Epstein’
O presidente dos Estados Unidos vem enfrentando uma turbulência política por causa da chamada “lista de Epstein”. O republicano tem sido pressionado até por aliados por não cumprir a promessa de divulgar o documento.
Em fevereiro, o governo dos EUA divulgou uma série de arquivos sobre a investigação do caso e a procuradora-geral Pam Bondi, em entrevista, chegou a afirmar que uma lista de clientes estava em sua “mesa para ser revisada”.
No dia 7 de julho, no entanto, o Departamento de Justiça informou em um comunicado que as teorias da conspiração relacionadas ao caso não tinham fundamento. Declarou que Jeffrey Epstein morreu por suicídio e não havia evidências de que o empresário mantinha uma “lista de clientes” que usaria para chantagens.
Um mês antes, durante a briga pública que protagonizou com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o bilionário Elon Musk afirmou que o ex-aliado estaria ligado ao escândalo sexual.
Mas, afinal, o que é a lista de Epstein?
Para entender, é preciso lembrar quem foi Jeffrey Epstein. O bilionário tinha conexões com figuras influentes do mundo político, financeiro e artístico. Ele morreu em 2019, em uma prisão em Nova York, acusado de comandar uma rede de abuso sexual contra dezenas de meninas menores de idade.
▶️ É de conhecimento público que Trump e Epstein foram amigos nas décadas de 1990 e 2000. O atual presidente nunca foi investigado sobre o caso e afirma ter se afastado do bilionário quando as denúncias de abuso sexual vieram à tona.
Nome de Trump em arquivos de Epstein
Reprodução
Durante a campanha de 2024, Trump prometeu mais de uma vez que, se voltasse à Casa Branca, tornaria públicos arquivos secretos sobre as investigações do caso. Durante uma entrevista, ele disse ser “muito estranho” que uma lista de clientes de Epstein nunca tivesse sido divulgada.
“É muito interessante, não é?”, afirmou. Trump também garantiu que “não teria problema” em revelar os nomes.
💡 Ou seja, a lista de Epstein seria um suposto documento com nomes de pessoas envolvidas no escândalo sexual — algo que nunca foi oficialmente confirmado.
Em fevereiro, o governo dos EUA divulgou uma série de arquivos sobre o caso. A procuradora-geral de Trump, Pam Bondi, chegou a dizer que uma lista de clientes de Epstein estava em sua “mesa para ser revisada”.
Mas uma reviravolta começou nos meses seguintes:
Em junho, o bilionário Elon Musk fez com que o caso voltasse à mídia durante uma briga pública com Trump.
À época, ele publicou no X que o nome do presidente aparecia nos arquivos de investigação. O post acabou sendo apagado, e Musk pediu desculpas.
Um mês depois, o Departamento de Justiça dos EUA divulgou uma nota oficial afirmando que Epstein cometeu suicídio e que o FBI não encontrou provas da existência de uma “lista de clientes”.
A declaração frustrou apoiadores de Trump, muitos dos quais espalham teorias da conspiração sobre o caso — algumas impulsionadas pelo próprio presidente.
A cobrança dentro da própria base irritou Trump. Na semana passada, ele chamou a lista de Epstein de “farsa“ e “bobagem“, acusando a “esquerda radical” de alimentar boatos. Mas esse discurso ainda não colou.
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