O ‘risco’ de ‘Uma batalha após a outra’, segundo DiCaprio
“Uma batalha após a outra” estreia nesta quinta-feira (25) nos cinemas brasileiros como um dos favoritos ao Oscar 2026 depois de ser aclamado pela grande maioria da crítica – mas não foi sempre assim.
Até poucos meses atrás, muitos analistas de Hollywood consideravam o filme como o maior risco tomado pelo estúdio, a Warner Bros., em 2025.
g1 já viu: ‘Uma batalha após a outra’ satiriza autoritarismo nos EUA com ação, destreza e culpa
Na sátira sobre autoritarismo nos Estados Unidos, Leonardo DiCaprio interpreta um ex-revolucionário que tenta salvar a filha em um país dominado por um governo fascista.
Mas por que tanta gente ignorava o potencial claro do projeto na temporada de premiações, mesmo com um astro como o ator de 50 anos em sua primeira parceria com um diretor renomado, como Paul Thomas Anderson (“Licorice Pizza”)?
A explicação está nos números. Com orçamento estimado entre US$ 130 milhões e US$ 175 milhões, a depender de quem reporta, o filme precisaria arrecadar mais de US$ 300 milhões – por causa de gastos com marketing – para se pagar, segundo a revista “Variety”.
Um valor difícil de ser ignorado, em especial quando os US$ 76 milhões de “Sangue Negro” (2007) foram a maior bilheteria da carreira de Anderson.
A conversa, no entanto, mudou de rumo completamente após as publicações das primeiras críticas, que exaltavam “Uma batalha após a outra” como um dos melhores do ano.
A escalada pode ser longa para a produção, mas agências de monitoramento projetam uma arrecadação de mais de US$ 40 milhões no fim de semana de estreia ao redor do mundo – o que seria um recorde para o cineasta.
“Sim, existe um foco muito grande hoje em dia em bilheterias e isso é uma pena”, diz DiCaprio, em entrevista ao g1, durante passagem pela Cidade do México para o lançamento latino-americano do filme.
“Ainda deveríamos dar atenção a filmes, mesmo filmes com um orçamento como esse, que são um grande risco, porque eles não têm as coisas que tradicionalmente as pessoas meio que esperam, seja filmes de super-heróis ou refilmagens. Seja o que for.”
“Esta é uma ideia completamente original.”
Leonardo DiCaprio em cena de ‘Uma batalha após a outra’
Divulgação
Sátira sem partido
Bem, talvez não “completamente”. Apesar de ser uma adaptação bem livre, “Uma batalha após a outra” é baseado no livro “Vineland”, publicado em 1990 por Thomas Pynchon.
Anderson começou a escrever o roteiro há cerca de 20 anos, na época do nascimento de sua filha – antes mesmo do lançamento de “Vício inerente” (2014), no qual levou de forma mais fiel outra obra do escritor para o cinema.
Dessa vez, a semelhança entre as histórias fica mais limitada ao argumento central, no qual um pai atrapalhado precisa proteger a filha de um agente federal com uma ligação complicada com a mãe da criança.
A trama ambientada nos anos 1980 no livro é atualizada para os dias de hoje no filme. O pai, interpretado por DiCaprio, passa a se chamar Bob. Já a filha, vivida pela estreante Chase Infiniti, ganha o nome de Willa.
“Eu tenho três filhas, então para mim foi muito fácil me conectar com o Bob, ter um carinho pela Willa, e para escrever um cenário desses não foi tão longe da minha vida”, disse PTA – como o cineasta é chamado – em uma coletiva de imprensa.
“Eu não passo o dia fumando maconha igual o Bob, mas acho que todos os pais têm medo de ser um fracasso.”
Paul Thomas Anderson, Leonardo DiCaprio, Chase Infiniti e Benicio del Toro em coletiva de imprensa de ‘Uma batalha após a outra’, no México
Cesar Soto/g1
A ideia é retratar com humor temas delicados, como racismo e xenofobia, e evitar clichês como o protagonista heroico clássico.
Ao mesmo tempo, todos os envolvidos com o filme evitam fazer comparações diretas com as políticas do atual presidente americano, Donald Trump.
Ao longo de dois dias, DiCaprio repete três vezes variações de que “Uma batalha após a outra” retrata uma sociedade dividida e mostra os erros dos dois lados do extremismo.
“Não gosto de dizer que um filme tem um objetivo político ou uma mensagem, mas há um fio condutor de ‘sejam bons uns com os outros’. Apesar de ideais políticos diferentes ou de filosofias diferentes sobre como o mundo deveria funcionar”, afirma o ator ao g1, depois de falar algo parecido no tapete vermelho no dia anterior e pouco antes de reforçar na coletiva.
“Acho que é um daqueles filmes que me lembram dos filmes que eu gostava enquanto crescia. Filmes que lidavam com a condição humana, mas que eram grandes”, diz ao lado do americano o porto-riquenho Benicio del Toro (“Sicário”).
“Nós fizemos isso por vocês. Não acho que ninguém estava pensando no orçamento. Estávamos apenas tentando fazer essa história da melhor forma possível, com nossos personagens. Queríamos que as pessoas se divertissem, queríamos que as pessoas vissem numa tela grande, porque é esse tipo de filme.”
Leonardo DiCaprio e Benicio del Toro em cena de ‘Uma batalha após a outra’
Divulgação
‘Uma batalha após a outra’: Como filme de Leonardo DiCaprio passou de ‘grande risco’ a um dos favoritos ao Oscar
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