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quarta-feira, outubro 1, 2025
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‘Shutdown’: como a crise orçamentária nos EUA pode afetar o dólar e a bolsa brasileira

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‘Shutdown’: Governo dos EUA é paralisado após Congresso não aprovar orçamento
A paralisação do governo dos Estados Unidos, após o Congresso não aprovar um projeto orçamentário para estender o financiamento federal, deve afetar o câmbio e os mercados financeiros pelo mundo.
Isso porque o impasse orçamentário entre Democratas e Republicanos vai além do fechamento de museus, parques nacionais e aeroportos americanos.
A instabilidade em Washington também pode interromper ou atrasar a divulgação de indicadores econômicos importantes para os investidores — dados que orientam as decisões do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) sobre a política de juros na maior economia do mundo.
Em teoria, esse cenário pode aumentar a aversão ao risco (o medo de perdas financeiras), provocar oscilações no valor do dólar frente a outras moedas e impactar o investimento estrangeiro em mercados emergentes — como o Brasil.
Empresas que dependem de exportações para os EUA ou do turismo também podem ser afetadas. Ainda assim, há chances de efeitos positivos.
Entenda nesta reportagem de que forma a crise orçamentária nos EUA pode repercutir por aqui:
Efeitos no dólar, no real e um aumento da procura por ouro
Para os analistas consultados pelo g1, o shutdown aumenta a incerteza global, mas há nuances: pode haver valorização do real e do ouro, maior atratividade para investimentos no Brasil e mais volatilidade no mercado de ações, dependendo da duração da paralisação nos EUA e das decisões do Fed.
Para Renato Nobile, da Buena Vista Capital, o efeito do atual shutdown é diferente da última paralisação ocorrida no primeiro mandato de Trump, em 2018. Naquele momento, a expectativa era de valorização do dólar, já que investidores tendem a buscar segurança na moeda americana em períodos de incerteza.
“Porém, o que está acontecendo agora, principalmente no contexto macro dos Estados Unidos e no contexto geopolítico, é que o governo Trump atual já vem desvalorizando o câmbio intencionalmente. Tanto é que o dólar vem se desvalorizando frente a todas as moedas, inclusive a brasileira”, afirma.
Trump tem adotado medidas que indicam uma certa intenção de enfraquecer o dólar. Em julho, antes viajar à Escócia, o republicano chegou a declarar que gostava de um dólar forte, mas ponderou que seria possível “ganhar muito mais dinheiro” com uma moeda mais fraca.
Nesse cenário, investidores já têm buscado alternativas de proteção, como o ouro. No início desta quarta-feira, o metal atingiu um novo recorde com o início da paralisação do governo americano, chegando a US$ 3.895,38 (cerca de R$ 20 mil) a onça (medida padrão de peso para metais) — em alta pelo quinto dia consecutivo.
🔎O ouro é considerado mais seguro porque ele não depende de governos, bancos ou empresas para ter valor. Por isso, em momentos de crise, investidores o veem como um porto seguro — ele tende a manter valor mesmo quando outros investimentos se desvalorizam.
“Vários países e bancos centrais estão realmente comprando mais ouro, porque não estão vendo tanta segurança na moeda americana e nos títulos do Tesouro americano. E isso acontece justamente por conta desse contexto: o governo americano desvalorizando a moeda intencionalmente e gerando muita imprevisibilidade para o investidor”, avalia Nobile.
Esse movimento já tem sido visto no Brasil. Nesta quarta-feira, o dólar iniciou a sessão em queda de 0,35%, cotado a R$ 5,3038. Por volta das 13h35, a divisa oscilava entre altas e baixas. No acumulado do ano, a moeda americana já registra recuo de 13,87%. No mesmo horário, o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, subia 0,44%, aos 145.596 pontos.

Apesar disso, há quem tenha uma visão oposta. Para Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, a crise orçamentária nos Estados Unidos tende a fortalecer o dólar frente ao real e elevar a aversão ao risco global, o que pressiona tanto o câmbio quanto os juros no Brasil.
“Em momentos de incerteza global, investidores procuram ativos considerados mais seguros, o que costuma fortalecer o dólar e fragilizar moedas emergentes como o real. Esse movimento aumenta a volatilidade e pode até pressionar a inflação interna via importados”, afirma.
Ele acrescenta que, na bolsa, setores ligados a commodities e exportação podem ser prejudicados tanto pela queda de preços internacionais quanto pela menor disposição dos investidores a assumir riscos.
Por outro lado, empresas com balanços sólidos, caixa robusto e menor dependência de crédito tendem a se tornar mais defensivas, ou seja, podem ser vistas como uma alternativa mais segura para os investidores.
Gabriel Mollo, analista de investimentos da Daycoval Corretora, não vê o shutdown como uma crise, e acredita que a queda do dólar já era esperada pelo mercado, apesar da paralisação.
Ele alerta, porém, que se o impasse orçamentário nos EUA se prolongar e não houver acordo, pode ocorrer fuga de recursos da bolsa brasileira, valorização do dólar e aumento da volatilidade.
Fed e indicadores econômicos
Com o shutdown nos EUA, alguns dados importantes da economia — como o número oficial de empregos (payroll) — deixam de ser divulgados. Sem essas informações, investidores e o banco central americano ficam “no escuro” e precisam usar outros sinais menos confiáveis para entender a economia. Isso aumenta a incerteza sobre os rumos do mercado.
“O atraso na divulgação de indicadores econômicos também aumenta o prêmio de risco [o ‘bônus’ que o investidor exige para se expor a mais incertezas] e pode pressionar o mercado acionário, com queda nos preços das ações ou maior instabilidade”, afirma o analista da Daycoval Corretora.
Por outro lado, investidores seguem atentos a fatores externos que podem trazer alívio. A possível reunião entre Trump e o presidente Lula, por exemplo, se bem-sucedida, pode reduzir a pressão sobre o dólar e estimular a valorização da bolsa brasileira, que nos últimos dias tem renovado recordes.
“Apesar de [o shutdown] ser ruim, o cenário tem um lado positivo. Com o impasse nos EUA, outros mercados ficam mais interessantes, e o Brasil se destaca para quem quer assumir risco, porque nossos concorrentes [outras nações emergentes] estão mais fracos e temos commodities essenciais para outros países”, diz Milene Dellatore, diretora da MIDE Mesa Proprietária.
Segundo ela, o shutdown nos EUA é um risco que acontece quase todos os anos e, por isso, o mercado já está ‘preparado’. No fim, a executiva acredita que o Congresso americano chegará a um acordo de qualquer maneira, seja ampliando o teto da dívida ou aumentando a emissão de dólares.
Além disso, apesar da forte influência do cenário internacional sobre outros países, inclusive para o mercado brasileiro, o Banco Central do Brasil deve focar mais na questão fiscal e na meta de inflação do país.
🔎 A política de juros nos EUA gera reflexos no Brasil. Quando as taxas americanas caem, tende a diminuir a pressão para que a taxa básica de juros brasileira (Selic) permaneça elevada. Além disso, há possíveis efeitos sobre o câmbio, com valorização do real frente ao dólar.
Para Dellatore, se a paralisação durar mais do que o previsto e o Fed ficar sem os dados econômicos necessários, o banco central americano pode optar por manter os juros, o que seria positivo para o Brasil. No entanto, se decidir aumentá-los, pode haver saída de recursos da bolsa brasileira para lá.
Diante de crises globais — como a guerra da Rússia, as negociações entre a China e os Estados Unidos e as tensões na Índia e no Paquistão —, Milene reitera: “O Brasil ainda é um país com instituições fortes e resilientes, e pode ser uma alternativa diante de concorrentes mais fracos”.
Painel na sede da B3, em São Paulo, Ibovespa, bolsa, Bovespa
Nacho Doce/Reuters

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