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quarta-feira, novembro 12, 2025
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Djavan se movimenta com soberania no álbum ‘Improviso’ dentro do ilimitado universo particular da obra do artista

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Djavan lança o álbum ‘Improviso’ com onze músicas inéditas e a regravação de ‘O vento’, canção lançada na voz de Gal Costa em 1987
Mar + Vin / Divulgação
♫ OPINIÃO SOBRE ÁLBUM
Título: Improviso
Artista: Djavan
Cotação: ★ ★ ★ 1/2
♬ No mundo a partir de hoje, 11 de novembro, Improviso flagra Djavan em liberdade, se movimentando com soberania dentro do ilimitado universo particular da singular obra autoral apresentada pelo artista ao Brasil há 50 anos com a defesa do samba Fato consumado no palco do festival Abertura, promovido pela TV Globo em 1975.
O título Improviso pode sugestionar o ouvinte a pensar que há dose maior de jazz na fina mistura de sons e ritmos que compõem a obra do artista. De fato, há um jazz livre como o amor cantado na levada aliciante de Um affair, joia da safra autoral deste 26ª álbum do cantor, compositor e violonista alagoano, nascido em Maceió (AL) e residente no Rio de Janeiro (RJ) desde o início da década de 1970.
“Um affair, do jeitinho que se quer / Não é pra todo mundo, não / Num harém, o pecado é de ninguém / Tudo é de graça / Nada se tem”, canta Djavan, se livrando das correntes afetivas. Antes, a música Um brinde já propusera – no envolvente single inicial apresentado em 25 de setembro – um coquetel de jazz e amor.
Contudo, a rigor, a dose de jazz é em essência a mesma de álbuns anteriores. Assim como a embalagem das músicas, formatadas no estúdio, sob a batuta do próprio Djavan, produtor musical de Improviso, álbum gravado com músicos recorrentes na discografia do artista.
Leia mais: Djavan grava música quase lançada por Michael Jackson: ‘Ele parecia um passarinho assustado’
Imune ao vírus contagiante das modas e modismos musicais, Djavan jamais contaminou a obra com os vícios mercadológicos. Improviso poderia ter sido feito em 1990, mas foi gerado em 2025, abrindo alas para a turnê retrospectiva que percorrerá o Brasil a partir de maio de 2026, celebrando os 50 anos do primeiro álbum do cantor, A voz, o violão, a música de Djavan, lançado em 1976.
Se ali o samba era o gênero dominante, por imposição do diretor da gravadora Som Livre, em Improviso há somente um samba, Cetim, com o canto aveludado do artista e a cadência que é somente de Djavan e de mais ninguém.
Djavan canta o samba ‘Cetim’ e dá voz a uma balada introspectiva, ‘Levei a noite’, na safra autoral do álbum ‘Improviso’
Mar + Vin / Divulgação
No álbum atual, imerso em atmosfera de requinte já conhecida pelos seguidores do cantor, a autoridade do compositor se impõe com as harmonias sinuosas e as “notas incertas” mencionadas em verso da letra da música-título Improviso.
Improviso, o álbum, põe o amor na pauta central das onze músicas inéditas com a certeza de que “ir atrás do amor é um jazz”, como poetiza o verso da já mencionada Um brinde.
E, tal como o amor verdadeiro e assim como o jazz, o álbum Improviso não é para as massas, muito menos para o povo domesticado pelo ralo padrão sonoro do mainstream de 2025. As massas de gosto médio vão se esbaldar com o roteiro de hits da turnê de 2026.
Nem todo mundo vai se embrenhar nos caminhos imprevistos de músicas como Sonhar (retrato de um mundo doido que vive em tempo de guerra) e Para nunca mais esquecer (mix de R&B com jazz).
Quem se permitir ser tomado pela liberdade que rege o álbum Improviso vai se deparar com bela balada de clima introspectivo e melancólico, Levei a noite, faixa que se afina com a densidade de outra canção, O escolhido. Nessa letra, o amor azulzinho perde um pouco da cor por conta da distância que faz mal para o coração dos amantes.
É que, como Djavan, o amor é soberano e segue as próprias leis. Só resta aos amantes respeitar essas leis. “Com o tempo que passou / Aprendi / Que um coração fechado / Não dá resultado (…)”, conclui Djavan, na letra de O grande bem, música na qual o poeta se mostra de coração aberto para ir atrás do amor.
Música escrita sob ótica feminina, com a liberdade dos poetas da canção, Falta ralar! põe Djavan na pele de menina de 15 anos, indignada com a imaturidade do namorado de 18. A letra é um alien na poética do disco.
Faixa que gerou as manchetes de quase todas as entrevistas feitas por Djavan para promover o lançamento do álbum Improviso, Pra sempre é música composta por Djavan em 1987 para possível gravação de Michael Jackson (1958 – 2009) no álbum Bad (1987), o primeiro do artista norte-americano após o álbum blockbuster Thriller (1982).
Só que Djavan esperou meses para atender o pedido feito em 1986 pelo produtor Quincy Jones. Quando Djavan enfim enviou a música, oito meses depois, o álbum Bad já estava em fase de mixagem. A melodia permaneceu no baú do compositor até ser tirada de lá para vir à tona no álbum Improviso, mas com letra recente, escrita em homenagem a Michael. Dá para sentir, pela batida funkeada da faixa Pra sempre, que a música poderia ter se ajustado ao som da realeza do pop norte-americano.
Curiosamente, o álbum Improviso inclui na discografia de Djavan outra música composta pelo artista em 1987, esta em parceria com o poeta Ronaldo Bastos. Trata-se de O vento, bela composição ofertada por Djavan a Gal Costa (1945 – 2022), cantora que sabia falar a língua da música do compositor.
O arranjo airoso de O vento em Improviso parece prestar tributo à gravação feita por Gal no álbum Lua de mel como o diabo gosta (1987). Tudo a ver, pois a lembrança de O vento no álbum Improviso soa como declaração de amor de Djavan a Gal, cantora fiel ao compositor desde 1981, quando Djavan ainda estava no início da caminhada que lhe deu a liberdade autoral que deságua nos imprevistos de Improviso 50 anos após a defesa de Fato consumado naquele tardio festival da canção.
E, contrariando o verso do samba, Djavan se recusa a viver de memória e permanece em movimento, ampliando o repertório autoral a cada dois ou três anos em álbuns feitos com nobreza e soberania.
Capa do álbum ‘Improviso’, de Djavan
Mar + Vin / Divulgação

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