Correios apresentam plano de reestruturação e anunciam eventual necessidade de mais R$ 8 bi em 2026
A previsão orçamentária dos Correios para 2026, publicada no “Diário Oficial da União” desta terça-feira (30), apresenta previsão de aumento de 21% nas despesas correntes da empresa e redução de 26% nas receitas.
O documento integra o decreto com as estimativas orçamentárias das empresas estatais federais para 2026, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na segunda-feira (29).
O aumento das despesas e redução das receitas faz parte de um cenário de dificuldades financeiras que os Correios já vêm passando nos últimos anos (veja mais abaixo).
🔎 O orçamento é um documento que norteia as ações para um período e não necessariamente precisam ser seguidos a risca, podendo inclusive sofrerem alterações.
Receitas
Para 2026, os Correios estimam R$ 17,7 bilhões em receitas correntes — que incluem encomendas, mensagens, correspondências internacionais e outros serviços. O valor é R$ 6,3 bilhões inferior ao previsto para 2025, quando a expectativa era de R$ 24 bilhões. Em 2024, a projeção era de R$ 20,6 bilhões.
Até setembro de 2025, a empresa havia registrado R$ 12,3 bilhões em receitas, o equivalente a 60% do total previsto para o ano. Para alcançar a estimativa anual, seria necessário arrecadar R$ 8,3 bilhões no último trimestre — cerca do dobro da média registrada nos trimestres anteriores.
Despesas
Na direção oposta, os Correios projetam aumento de R$ 5 bilhões (21%) nas despesas correntes, que reúnem gastos com prestação de serviços, salários, publicidade e despesas administrativas.
Em 2025, a empresa estimou despesas de R$ 24 bilhões. Para 2026, a projeção é de R$ 29 bilhões. Entre os fatores que ajudam a explicar o aumento está o programa de demissão voluntária (PDV), que prevê o desligamento de até 10 mil funcionários.
A despesa com pessoal também cresce: sobe R$ 1,5 bilhão (10,5%), passando de R$ 14,2 bilhões para R$ 15,7 bilhões. Em sentido contrário, os gastos com dirigentes tiveram a maior redução proporcional, de 33,48% — caindo de R$ 13,9 milhões em 2025 para R$ 8,8 milhões em 2026.
O demonstrativo orçamentário também prevê receitas de capital, relacionadas à contratação de empréstimos.
Empréstimo de R$ 12 bilhões
Nesta terça-feira (30), os Correios receberam R$ 10 bilhões dos R$ 12 bilhões contratados junto a um consórcio de bancos privados. A assinatura do contrato foi publicada no Diário Oficial da União no sábado (27).
O consórcio é formado por Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. O contrato tem validade até 2040 e conta com garantia da União, autorizada pelo Tesouro Nacional em 18 de dezembro. Na prática, a garantia significa que o governo federal cobre a dívida caso a estatal não consiga honrar os pagamentos.
Segundo o presidente dos Correios, Emmanoel Rondon, Banco do Brasil, Caixa e Bradesco vão aportar R$ 3 bilhões cada. Itaú e Santander emprestam R$ 1,5 bilhão cada.
O contrato prevê carência de três anos e início dos pagamentos mensais em dezembro de 2029. A taxa de juros foi fixada em 115% do CDI, abaixo do teto de 120% estabelecido pelo Tesouro.
Durante coletiva, Rondon não descartou a possibilidade de novos empréstimos, no valor de até R$ 8 bilhões. Segundo ele, a captação pode ocorrer por meio de recursos do Tesouro Nacional ou de novas operações de crédito, alternativas que ainda estão em análise.
A proposta inicial da empresa era contratar R$ 20 bilhões em empréstimos, mas o Tesouro não autorizou a operação devido às taxas de juros apresentadas.
Plano de reestruturação
O plano de reestruturação dos Correios prevê corte de R$ 2 bilhões em gastos com pessoal, venda de imóveis e fechamento de cerca de mil agências — hoje a empresa tem aproximadamente 5 mil unidades.
A estatal planeja implementar um PDV e reduzir em até 15 mil o número de funcionários em dois anos, o que representaria um corte de 18% na folha de pagamentos.
🔎 Programa de demissão voluntária (PDV) é um conjunto de incentivos oferecidos para que funcionários deixem a empresa por iniciativa própria, como forma de reduzir custos sem demissões compulsórias.
Segundo Rondon, o modelo econômico-financeiro da empresa deixou de ser viável. O plano busca reverter uma sequência de 12 trimestres consecutivos de prejuízos.
A expectativa é equilibrar as contas em 2026 e voltar a registrar lucro a partir de 2027. Para isso, a empresa prevê:
redução de R$ 2,1 bilhões nos custos com pessoal;
venda de R$ 1,5 bilhão em imóveis não operacionais;
fechamento de mil pontos de atendimento deficitários;
reformulação do plano de saúde, com economia estimada em R$ 500 milhões por ano.
Em setembro, os Correios divulgaram prejuízo de R$ 4,3 bilhões no primeiro semestre de 2025. No mesmo período de 2024, o resultado negativo foi de R$ 1,3 bilhão.
Rondon afirmou que, sem ajustes, a empresa pode registrar prejuízo de até R$ 23 bilhões em 2026. Segundo ele, não há expectativa de melhora significativa ainda em 2025.
Receitas futuras
A empresa também pretende adotar novas estratégias para ampliar receitas. A meta é alcançar R$ 21 bilhões em 2027.
Em 2024, os Correios fecharam o ano com receita total de R$ 18,9 bilhões — abaixo dos R$ 19,2 bilhões de 2023 e dos R$ 19,8 bilhões de 2022.
Até setembro de 2025, a receita caiu quase R$ 2 bilhões em comparação com o mesmo período de 2024. Parte da redução está associada ao programa Remessa Conforme, criado pelo Ministério da Fazenda em 2023.
A medida instituiu imposto de importação de 20% sobre compras internacionais de até US$ 50, conhecidas como “taxa das blusinhas”, e permitiu que empresas privadas de logística passassem a distribuir encomendas internacionais no Brasil, reduzindo a exclusividade dos Correios.
Segundo levantamento apresentado pela empresa, a participação dos Correios no mercado de encomendas caiu de 51% em 2019 para 22% em 2025.
A estatal também planeja investir R$ 4,4 bilhões entre 2027 e 2030, com recursos de um empréstimo do Novo Banco de Desenvolvimento do Brics, presidido por Dilma Rousseff. Os recursos devem ser usados para automação de centros de tratamento, renovação da frota, modernização da infraestrutura de tecnologia da informação e redesenho da logística.


