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sexta-feira, junho 20, 2025
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Costureiro de bolas malucas resgata história esquecida da criadora do maior símbolo das ruas de SP

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Designer britânico viralizou no TikTok com padrões inusitados de bolas, como peças de Tetris, quebra-cabeças e o casco de tatu-bola. Ele conta ao g1 que, após conhecer a história da brasileira Mirthes Bernardes, usou o mapa estilizado das ruas de SP para criação engenhosa; VÍDEO. Criador de bolas divertidas usa história escondida das calçadas de SP como inspiração
O britânico Jon-Paul Wheatley viralizou no TikTok com uma atividade incomum: costureiro de bolas de futebol. Ele cria desafios para si mesmo com padrões geométricos malucos, e faz bolas baseadas em peças de Tetris, quebra-cabeças e até no casco de um tatu-bola.
Em busca de formatos diferentes dos pentágonos e hexágonos das bolas tradicionais, ele ficou obcecado por uma imagem: o padrão das várias calçadas de São Paulo – aquele mapa estilizado do estado.
O vídeo de Jon-Paul costura o desafio geométrico com a curiosidade histórica: ele resgata a criação da arquiteta e artista Mirthes Bernardes (nome artístico de Mirthes dos Santos Pinto), em 1966, muitas vezes desconhecida pelos próprios paulistanos. Clique acima para assistir.
“Me deparei aleatoriamente com uma postagem no X (antigo Twitter). Primeiro fui impactado pelo próprio padrão, depois comecei a ler as respostas e a me aprofundar na história por trás disso”, explica o artista ao g1 sobre como conheceu o padrão e decidiu usá-lo em sua obra.
“Quanto mais eu investigava a história de Mirthes Bernardes, mais eu pensava que seria uma ótima base para uma bola.”
A postagem de que Jon-Paul fala – e pode ser vista logo abaixo – mostra a arquiteta sentada ao lado de sua criação, além de mostrar um croqui do padrão.
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Mas como colocar essa padronagem em uma bola?
Apesar do formato redondo, bolas de futebol não são exatamente esféricas. Elas são, na verdade, compostas por painéis em formatos poligonais costurados. Eles geralmente são dispostos em um padrão de 32 gomos, sendo 20 hexágonos (de seis lados) e 12 pentágonos (de cinco lados).
No entanto, como Jon-Paul mostra ao recriar as bolas, é possível transformar esses polígonos em diversas outras figuras geométricas.
“Adoro quando bolas são criadas a partir de formas de painéis idênticos e repetidos. Acho que bolas que têm essa característica são as mais elegantes. É possível combinar 30 formas de painéis, levemente refinadas a partir do azulejo 2D que a Mirthes criou, em uma esfera perfeita”, conta o artista.
Jon-Paul resolveu o problema da padronagem usando o couro de São Paulo nas peças
Jon-Paul Wheatley/Divulgação
A primeira versão feita pelo artista traz uma organização que não permite que as peças fiquem completamente alternadas, acontecendo de cores ficarem juntas.
“Lutei com isso no começo! Minha primeira ideia foi abandonar completamente o esquema de cores preto e branco, e usar couro proveniente do estado de São Paulo para criar a bola. O fato de que o padrão não se resolve perfeitamente combina com o tema, já que a história que inspirou a bola também não foi resolvida”, explica o britânico, que já resolveu o problema voltando à ideia de usar material vindo do Brasil.
Mirthes Bernardes foi a artista idealizadora da padronagem que aparece nas calçadas de São Paulo.
Reprodução
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Como surgiu o padrão das calçadas de São Paulo?
Na década de 1960, o prefeito João Vicente Faria Lima lançou um concurso para um novo desenho para o calçamento da cidade. Na época, Mirthes trabalhava como desenhista da Secretaria de Obras da Prefeitura de São Paulo.
Ela, então, criou um mapa estilizado do estado, a partir de módulos quadrados usando peças geométricas brancas e pretas, que se alternavam. O desenho ganhou o concurso e se tornou um marco da cidade, como são também os calçadões de Copacabana e Ipanema no Rio de Janeiro.
Mirthes contou em entrevistas que o seu desenho foi descoberto por acaso na sua gaveta do trabalho por seu chefe na Secretaria. Foi ele quem insistiu para que ela participasse do concurso do qual acabou saindo vencedora.
Apesar de sua obra ser bastante conhecida, o nome de Mirthes não é exatamente reconhecido. Depois do concurso que a consagrou, a artista chegou a realizar a patente da criação. Com isso, ela foi informada que receberia uma porcentagem por calçada implantada, com exceção das que estivessem em canteiros centrais, como contou em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo” em 2015.
No entanto, não foi o que aconteceu. Na mesma entrevista, a criadora da padronagem disse não ter recebido nada. “Acho que merecia, afinal de contas, tentei embelezar São Paulo. Não espero mais nada, mas espero que meus sobrinhos tenham”, disse à publicação na época.
Croqui da padronagem criada por Mirthes Bernardes
Reprodução/Mirthes dos Santos Pinto
Como surgiu a mistura entre o padrão de Mirthes e a arte de Jon-Paul?
“Amo futebol desde que me lembro. Nunca fui muito bom, mas jogava o tempo todo e era o principal assunto nas minhas primeiras amizades enquanto crescia”, relembra.
Jon-Paul diz que o seu trabalho ao usar a padronagem criada pela artista é uma forma de homenageá-la. “Uma mulher que criou uma obra icônica, mas passou a vida quase anônima e sem ser paga. Eu gosto que meu trabalho tenha uma narrativa, e poder destacar o trabalho da Mirthes, enquanto faço algo inspirado no que ela criou, pareceu certo. Gostaria de poder presentear isso a ela”, conta.
A artista, que morreu em 2020, não vai poder receber o seu presente, mas a família dela, sim. Segundo o britânico, após seu vídeo viralizar, um sobrinho de Mirthes entrou em contato com ele e disse que familiares dela viram a publicação e que ficaram muito felizes com a homenagem. Jon-Paul resolveu enviar a bola de presente. “Parece ser o lugar mais adequado para ela ficar”, diz.
Primeira bola feita pelo artista britânico.
Jon-Paul Wheatley/Divulgação
Como o artista virou um designer de bolas?
Jon já era designer de produtos antes de se tornar um artista das bolas. “Nunca pensei que fazer bolas de couro à mão seria um caminho de carreira viável”, relata. “Comprei algumas ferramentas de trabalho em couro quando a (pandemia de) covid-19 começou, e então comecei a experimentar tentando fazer bolas”, continua.
“Demorei muito para conseguir acertar. Fiz muitas e muitas bolas ruins. Sempre que terminava uma, olhava para ela e pensava: ‘se eu fizer outra dessa, vai ficar melhor’. Tenho estado nesse estado mental desde então, mas agora estou cercado por bolas”, brinca.
E se o tema é futebol, o artista revela quem gostaria de ver chutando alguma de suas criações: “Roberto Carlos e Ronaldinho, seria incrível. Peter Schmeichel. Também David Beckham. Ou o Rei Charles III”.

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