Capa do álbum ‘Feitiço’, de Bixarte
Cley
♫ OPINIÃO SOBRE ÁLBUM
Título: Feitiço
Artista: Bixarte
Cotação: ★ ★ ★ ★
♬ “Não caio / Se cair, só caio de pé”, avisa Bixarte sobre a batida do tambor que rege Não foi sorte, música que abre o segundo álbum de estúdio da rapper, poeta e atriz paraibana, Feitiço, produzido por Big Jesi e programado para ser lançado em 21 de novembro. A faixa une Bixarte com a travesti afro-indígena Ayô Tupinambá, integrante de time de convidados pautado pela diversidade.
Bixarte é como Bianca Manicongo se apresenta no universo pop, conjugando no nome artístico a vocação para fazer arte e a expressão de identidade social associada ao universo das travestis e pessoas trans. A propósito, ela marca posição nesse universo com o discurso altivo de raps como Máfia, petardo atirado por Bixarte na hipócrita sociedade heteronormativa em que muitos homens casados se relacionam às escondidas com travestis.
Sucessor do álbum Traviarcado (2023) na discografia de estúdio da artista, Feitiço soa como manifesto de fé e resiliência de Bixarte, atriz cuja forte presença cênica valorizou a encenação da peça Ao vivo [Dentro da cabeça de alguém], espetáculo da Companhia Brasileira de Teatro estreado em 2024 com texto e direção de Marcio Abreu.
Na primeira metade das 12 músicas do álbum Feitiço, é a rapper orgulhosa da própria identidade que domina a cena no pulso frenético de raps como Tentação, faixa já apresentada como single editado em 24 de outubro.
Entre batidas de rap, alguns grooves de afrobeat e incursão pelo universo do forró eletrônico do século XXI, mote de Como me olhas, música sensual gravada com Johnny Hooker na linha “amor bandido”, Bixarte faz feat com a conterrânea Lucy Alves em Ibiza, comunga com a mana paulista Monna Brutal no tom explosivo do rap Gasolina e reafirma a fé afro religiosa em Exu, juntando na faixa a cirandeira Vó Mera (nascida na Bahia, mas criada em João Pessoa) e o rapper paulistano Emicida, cujo canto grave adorna a gravação com tonalidade sombria.
Em Calma, filha, Bixarte sereniza o beat para se impor no baile. A segunda metade do álbum Feitiço flagra Bixarte menos relaxada, se permitindo curtir a paixão de Culpa. Com alusão a versos do samba Maricotinha (Dorival Caymmi, 1994) na letra, Oceano joga o álbum na calmaria do mar da ancestralidade, pedindo benção aos santos e orixás.
Faixa que fala de amor, Me vê junta Bixarte com o rapper paraibano A Fúria Negra e com a cantora também paraibana Mari Santana, reafirmando a ligação da artista nascida em Santa Rita, na região metropolitana de João Pessoa (PB), com as origens.
No arremate do álbum Feitiço, Kaô kabecilê pede justiça ao orixá Xangô, repondo o tambor no centro da sonoridade de disco em que Bixarte bate cabeça em reverência à fé nas religiões de matriz afro-brasileira. Até porque, em essência, Bixarte faz de Feitiço um manifesto político de resistência entre as batidas extrovertidas das pistas e os calores íntimos das madrugadas.
Bixarte lança o álbum ‘Feitiço’ em 21 de novembro
Cley / Divulgação
Bixarte bate o tambor para professar fé, diversidade e resiliência no pulso firme do rap que impulsiona o álbum ‘Feitiço’
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