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Documento divulgado pelo Departamento de Justiça americano detalha relatos coletados pelo FBI em que é citado ‘grande grupo de brasileiros’.
Reprodução via BBC
Um “grande grupo brasileiro” é mencionado em um depoimento ao FBI, a polícia federal americana, que integra dezenas de milhares de documentos divulgados pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos sobre o caso do bilionário Jeffrey Epstein, criminoso sexual condenado nos Estados Unidos e morto em 2019.
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Os arquivos foram tornados públicos na sexta-feira (19/12), após determinação do Congresso americano, e reúnem materiais de investigações sobre abusos sexuais e tráfico de mulheres e meninas atribuídos a Epstein.
A referência identificada pela BBC News Brasil aparece em anotações manuscritas baseadas em uma entrevista do FBI, de 2 de maio de 2019. O conteúdo trata de pessoas que podem ter sido levadas como possíveis vítimas para encontros sexuais, inclusive menores de idade.
Grande parte do material está tarjada, o que impede a identificação de pessoas envolvidas ou a compreensão integral do contexto.
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O arquivo leva o título de “Entrevista de [informação tarjada]”. A seguir, no campo da descrição, é possível ler “notas originais da entrevista de [informação tarjada]. Fotos fornecidas por [informação tarjada].”
“Amigos de amigos [informação tarjada]. Grande grupo brasileiro”, diz o texto da entrevista, anotado à mão.
Os registros fazem parte de um conjunto maior de milhares de arquivos que inclui fotos, vídeos e documentos de investigação reunidos por autoridades americanas ao longo de anos.
Documento divulgado pelo Departamento de Justiça dos EUA cita modelo que ‘acabou de vir do Brasil’.
Reprodução via BBC
Trecho de documento em que é narrado ‘retorno ao Brasil’.
Reprodução via BBC
‘Ele não queria garotas escuras’
Segundo o documento do depoimento, uma pessoa que é citada como “JE” (possivelmente Jeffrey Epstein) teria imposto critérios sobre as meninas que lhe eram apresentadas, afirmando que não queria “spanish or dark girls” (pelo contexto, aparentemente referindo-se a latinas/hispânicas).
Em um trecho, as anotações descrevem características físicas de uma pessoa citada como de “pele mais escura” e “aparência amazônica”, que teria sido “trazida no final, em momento de desespero”, quando os envolvidos estariam “ficando sem garotas”.
Em outra parte do relato manuscrito há uma menção a alguém que “teria acabado de vir do Brasil” e “era modelo”.
O documento diz que JE “realmente estava apaixonado por ela” e que “talvez tenha falado em fazer um esboço ou pintura”.
Uma anotação lateral diz “vivendo com a mãe aos 13, saiu de casa aos 14”.
O mesmo documento traz ainda fotos cujas legendas falam sobre uma “festa brasileira” e um “desfile brasileiro”, mas tarjas impedem a identificação do local ou das pessoas envolvidas.
O relato fala também sobre a idade das meninas, com uma preferência de Epstein por menores.
“Em certo momento, [tarja] o viu pedindo documento de identidade para as meninas. Ele queria se certificar de que tinham menos de 18 anos porque não estava acreditando nelas, já que [tarja] tinha bagunçado tudo ao levar garotas mais velhas.”
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EPA/Shutterstock via BBC
Parceiro de Epstein buscou modelos em agência brasileira em 2019
Além do relato envolvendo brasileiros agora divulgado, reportagens publicadas nos últimos anos no Brasil e em outros países afirmam que um conhecido parceiro de Epstein esteve no Brasil em 2019, o ex-agente de modelos francês Jean-Luc Brunel, também acusado de ter traficado mulheres.
Brunel foi encontrado morto na prisão em Paris, na França, em 2022. Estava detido desde o início de uma investigação formal, após ser acusado de assédio sexual e estupro contra jovens com idades entre 15 e 18 anos na França. Ele negava as acusações.
O agente era cofundador da agência de modelos francesa Karin Models, criada em 1977, e da MC2 Models Management, nos Estados Unidos, e contava com financiamento de Epstein.
Documentos da Justiça dos Estados Unidos apontaram que Brunel recrutava garotas para Epstein, prometia contratos no mundo da moda para elas e as levava em um avião da França para os Estados Unidos.
Jean-Luc Brunel visitou Brasília e teria feito teste para levar modelos para Nova Iorque, segundo publicação de agência.
Reprodução via BBC
Uma reportagem do jornal britânico The Guardian, publicada em agosto de 2019, relata que enquanto aliados de Epstein desapareceram da vida pública nos anos seguintes ao seu acordo judicial, “Brunel continuou a viajar pelo mundo em busca de mulheres jovens e meninas para transformá-las em modelos”.
O jornal afirmou que Brunel esteve no Brasil em 2019 para “encontrar novas modelos para levar aos Estados Unidos” e que, quando um repórter visitou um apartamento em Miami de propriedade de Brunel, a porta foi atendida por uma jovem que disse ser uma modelo brasileira que estava lá para trabalhar para a MC2, sua agência, e que havia pelo menos outras três modelos hospedadas no apartamento.
Outra reportagem da Agência Pública, publicada em novembro, mostrou uma foto de Brunel divulgada em 2019 por uma agência de modelos, a Mega Model Brasília, com legenda afirmando que ele “esteve aqui [em Brasília] hoje para um casting para levar os nossos modelos para Nova Iorque”.
Nivaldo Leite, diretor da agência, diz à BBC News Brasil que não houve qualquer contato com Brunel depois da visita e que nenhum modelo da agência brasileira teria viajado com ele.
Segundo a reportagem, Brunel também teria visitado cidades em outros Estados.
A BBC News Brasil encontrou a mesma imagem ainda disponível na rede social, com legenda em inglês, na página da agência na rede social Facebook.
Além da foto, há ao menos dois vídeos de modelos desfilando na mesma publicação, republicados pelo diretor da agência em seu perfil no Facebook, com o mesmo texto que diz que Brunel e sua equipe “sempre serão bem-vindos à nossa casa.”
A reportagem perguntou ao governo brasileiro se há ou houve qualquer iniciativa no sentido de identificar brasileiros no caso Epstein.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública e o Itamaraty informaram que a demanda deveria ser feita à Polícia Federal, que por sua vez respondeu que “não se manifesta sobre investigação em curso”.
‘Ele apenas foi na agência fazer uma visita e conhecer nossa estrutura’, diz diretor
Brasil aparece como um dos destinos de viagem de Epstein em montagem nos arquivos divulgados pelo Departamento de Justiça americano.
Reprodução via BBC
Nivaldo Leite, diretor da Mega Model, afirma à BBC News Brasil que Brunel “apenas foi na agência fazer uma visita e conhecer nossa estrutura”, mas que nenhum modelo da agência viajou ou fez contato com ele depois.
“Certeza absoluta que nenhuma! Quem faz internacional da agência sou eu pessoalmente”, diz. Ele afirmou que a empresa não foi contatada por nenhuma autoridade para dar informações sobre Brunel.
Leite diz que Brunel estava em Brasília visitando agências e perguntou se podia conhecer a Mega Model. “Havíamos acabado de inaugurar a estrutura física no shopping.”
Leite afirma que não conhecia Brunel nem Epstein, nem mesmo de nome.
“A agência ficava no shopping aberta a todo mundo. Lembro que ele estava até apressado devido ao voo”, afirma.
“Conheceu o espaço, me falou que era dono de uma agência internacional na Europa, se não me engano. Acho que deixou um cartão de visita dele, caso eu tivesse interesse em parcerias. Logo após veio a pandemia e nunca mais ouvi falar dele. Não sei nem se ele está vivo e tampouco sobre a agência dele”, prossegue.
“Não sabia nem de relações dele e nem desta pessoa [Epstein] que está me perguntando. Não conversei absolutamente nada com ele com viés pessoal.”
‘Grande grupo brasileiro’: o elo do caso Jeffrey Epstein com o Brasil revelado em novos documentos
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