Dívidas impactam saúde emocional dos brasileiros
Com a taxa básica de juros em 15% ao ano, o número de famílias com dívidas ou contas em atraso no país cresceu em julho.
Dados divulgados nesta quinta-feira (7) pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostram que a inadimplência chegou a 30,2% da população brasileira — o maior nível desde setembro de 2023.
Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), o índice subiu 0,5 ponto percentual no mês passado, acompanhado pelo aumento no número de famílias que declararam não ter condições de pagar suas dívidas.
Outros números da pesquisa revelam, também, que:
O endividamento ficou praticamente estável, em 78,5%, com o avanço de 0,1 ponto percentual em relação ao mês passado;
A redução no prazo para pagamento das dívidas continuou pelo sétimo mês seguido. As dívidas com mais de um ano chegaram a 31,5%;
Em contrapartida, o comprometimento no curto prazo cresceu;
Famílias de renda média e baixa, e o público feminino têm passado por maiores dificuldades;
Cartão de crédito segue como o principal meio de endividamento;
Carnês continuam ganhando espaço, sendo a segunda modalidade mais utilizada.
Em julho, 12,7% das famílias endividadas disseram não ter condições de pagar as dívidas, o que representa um aumento de 0,2 ponto percentual em relação a junho (12,5%). Desde dezembro de 2024, essa fatia não era tão grande, afirma a CNC.
“O aumento do número de famílias que já não conseguem pagar suas dívidas e a estagnação do endividamento indicam que os brasileiros estão no limite de sua capacidade de contrair novas dívidas”, afirma em nota o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros.
⚠️ ATENÇÃO: O endividamento é diferente da inadimplência. Uma pessoa endividada é aquela que tem dívidas. O inadimplente é quem não consegue pagar essas dívidas no prazo.
Ou seja, alguém pode estar endividado e ainda assim estar com tudo em dia, pagando parcelas ou empréstimos normalmente. A inadimplência acontece quando esses pagamentos atrasam.
Taxa de juros mais alta e menos prazo para pagar
Com os juros elevados, os consumidores têm contado com prazos menores para pagar suas contas, principalmente por decisão das instituições de crédito. Tanto que o percentual de famílias comprometidas com dívidas por mais de um ano continuou em queda pelo sétimo mês, alcançando 31,5%, o menor percentual desde fevereiro de 2024 (30,9%).
Com isso, houve aumento do comprometimento de até seis meses, mostrando que o endividamento está sendo cada vez mais de curto prazo.
“A redução dos prazos mostra um uso cada vez mais defensivo do crédito. Esse comportamento exige atenção das autoridades para que se evite uma estagnação no comércio e nos serviços.”
Embora o número de dívidas com mais de um ano tenha diminuído, o tempo de inadimplência continua alto, segundo a pesquisa. No mês passado, 47,5% dos inadimplentes tinham contas em atraso há mais de 90 dias.
Ainda assim, houve melhora no percentual de famílias que comprometem mais da metade da renda com as dívidas, de 19,2% para 18,9% no mês. Outra boa notícia é que o comprometimento médio dos ganhos familiares caiu para 29,4%.
Cartão de crédito ainda é o principal vilão
O cartão de crédito continua como o principal meio de endividamento (84,5%), embora tenha recuado 1,5 ponto percentual na comparação com 12 meses atrás.
Já os carnês continuam ganhando espaço, sendo a segunda modalidade mais utilizada, com 16,8%, em destaque em relação ao crédito pessoal, que aparece com 10,6%.
Fábio Bentes, economista-chefe da CNC, pontua que as famílias brasileiras estão mais conscientes em relação ao crédito.
“O recuo do cartão de crédito e o avanço dos carnês sugerem uma busca por modalidades menos onerosas e com maior previsibilidade de pagamento”, afirma Bentes.
Mesmo com os indicadores elevados, a CNC projeta que o endividamento deve começar a desacelerar nos próximos meses. A expectativa é que a combinação de juros elevados e aumento da inadimplência leve as famílias a um comportamento mais cauteloso com o crédito.
Ainda assim, a entidade prevê que 2025 terminará com endividamento 1,1 ponto percentual acima e inadimplência 1,4 ponto percentual maior em comparação ao fim de 2024.
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