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segunda-feira, novembro 3, 2025
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Lô Borges deixa um rio de melodias e harmonias requintadas em obra que sempre seguiu o curso natural da música

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Lô Borges, um dos fundadores do Clube da Esquina, morre aos 73 anos
♫ OBITUÁRIO
♬ O fato de Salomão Borges Filho (10 de janeiro de 1952 – 2 de novembro de 2025) ter gravado e assinado um álbum com Milton Nascimento, aos 20 anos, já diz muito sobre a musicalidade entranhada desde sempre na alma do cantor, compositor e músico mineiro imortalizado como Lô Borges – sobretudo quando se sabe que esse álbum de 1972 se chama Clube da Esquina e é um dos títulos fundamentais da discografia brasileira.
Até por isso a morte de Lô Borges – ocorrida na noite de ontem, domingo, em hospital de Belo Horizonte (MG), cidade natal do artista – deixa imensa tristeza e lacuna na música brasileira.
Lô se vai aos 73 anos em momento de intensa criatividade. Além de cumprir a agenda de shows, o artista vinha gravando desde 2019 um álbum autoral por ano com músicas inéditas, sempre com um parceiro diferente. O último, Céu de giz, foi lançado em 22 de agosto com dez músicas assinadas em parceria com Zeca Baleiro.
Lô Borges (10 de janeiro de 1952 – 2 de novembro de 2025) sai de cena aos 73 anos em plena criatividade
Flavio Charchar / Divulgação
Sexto de onze irmãos da musical família Borges (clã que gerou o excepcional letrista Marcio Borges, parceiro dos irmãos Lô, Telo e de Milton Nascimento em standards do repertório do Clube da Esquina), Lô soube combinar acordes em sequência que geravam belas harmonias.
Basta ouvir Tudo que você podia ser (Lô Borges e Márcio Borges, 1972), Nuvem cigana (Lô Borges e Ronaldo Bastos, 1972), Um girassol da cor de seu cabelo (Lô Borges e Márcio Borges, 1972), Paisagem da janela (Lô Borges e Fernando Brant, 1972) e O trem azul (Lô Borges e Ronaldo Bastos, 1972) para perceber o talento exponencial do compositor melodista, parceiro de Samuel Rosa e Nando Reis na canção Dois rios (2003), obra-prima do repertório do grupo mineiro Skank.
Garoto que amou o rock dos Beatles, Lô Borges também foi filho da bossa nova de João Gilberto (1931 – 2019) e da MPB da era dos festivais. Foi da alquimia dessas excelentes referências (inclusive a tal influência do jazz) que o artista construiu obra projetada nacionalmente em 1972 com o álbum Clube da Esquina e com o álbum solo gravado pelo cantor naquele mesmo ano de 1972 – por imposição da diretoria da gravadora Odeon, ávida por explorar o talento do garoto prodígio – e conhecido ao longo dos anos como “O disco do tênis” pela capa que estampou imagem do surrado par de Adidas branco do cantor.
Nesse disco solo inicial, o cantor e compositor aprimorou a mistura fina de pop, MPB, rock e jazz do Clube da Esquina com dose adicional de psicodelia e um toque de música nordestina. A gravadora sonhava em fabricar um popstar hippie nascido do Clube da Esquina. Só que Lô Borges, que viera para a cidade do Rio de Janeiro (RJ) em 1971 com o aval e incentivo de Milton Nascimento, se recusou a assumir esse personagem lhe oferecido pela indústria do disco e se retirou de cena, fiel à deusa música.
Lô Borges voltou a aparecer somente em 1978, no álbum duplo Clube da Esquina 2, já sem ser o coprotagonista, como no disco de 1972. Em 1979, Lô lançou enfim o segundo álbum solo, A Via Láctea, com músicas como Equatorial (Lô Borges, Beto Guedes e Marcio Borges, 1979) e Vento de maio (Telo Borges e Marcio Borges, 1979).
Seguiram-se alguns álbuns nos anos 1980, como Nuvem cigana (1982) e Sonho real (1984), com Lô respeitando o ritmo da própria natureza criativa, sem atender demandas empresariais e sem se pressionar para repetir o sucesso de 1972. Tanto que, posto para escanteio pela indústria da música, o artista lançou somente um álbum, Meu filme (1996), ao longo da década de 1990. O que gerou surpresa quando, a partir de 2019, o cantor começou a apresentar um álbum a cada ano.
Foram sete álbuns em sete anos, com destaque para o primeiro, Rio da lua (2019), composto em parceria com Nelson Angelo. Rio da lua (2019), Dínamo (2020), Muito além do fim (2021), Chama viva (2022), Não me espere na estação (2023), Tobogã (2024) e Céu de giz (2025) mostraram que a chama da música sempre estive viva em Lô Borges.
Primeiro desses sete álbuns sequenciais, Rio da lua mostrou que havia ali um compositor com a criatividade represada que decidiu mais uma vez seguir o curso natural da música, sem compromissos industriais, como fizera desde 1972.
Em suma, ao partir aos 73 anos com a chama ainda viva, Lô Borges deixa obra composta por melodias e harmonias requintadas. Um cancioneiro caudaloso como um rio de incontáveis afluentes na música do Brasil.

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