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quinta-feira, outubro 16, 2025
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O fator Marco Rubio: quem é o secretário ‘linha-dura’ que Trump escolheu para negociar tarifa com Brasil

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Mauro Vieira participa de reunião de negociação com EUA sobre tarifaço nesta quinta
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, se reúne nesta quinta-feira (16/10), em Washington, com o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, para negociar a tarifa de 50% imposta pelo governo Trump contra uma série de produtos brasileiros e outras sanções a autoridades do país.
O encontro foi acertado após uma conversa por telefone entre os dois na última semana e confirmado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante um evento no Rio de Janeiro na quarta-feira (15/10).
A reunião está marcada na agenda oficial de Rubio para as 14h no horário de Washington (15h no horário de Brasília).
Designado pelo presidente Donald Trump para dar sequência às negociações, Rubio foi um dos principais porta-vozes das sanções contra o Brasil.
Além do tarifaço, ele liderou sanções contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes — a quem ele acusou de fazer uma “caça às bruxas” contra Jair Bolsonaro (PL) no processo que condenou o ex-presidente a golpe de Estado.
Rubio também esteve à frente da revogação de vistos de autoridades brasileiras em represália ao Programa Mais Médicos, como o atual ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
O secretário de Estado faz parte da ala ideológica do governo Trump e é conhecido por sua política linha-dura contra países como Cuba, Venezuela e China — este último, principal parceiro comercial do Brasil.
A relação entre os dois países, inclusive, já foi criticada por Rubio quando era senador.
O presidente Lula disse que pediu a Trump que o secretário de Estado conversasse com o Brasil sem preconceito.
“Pelas entrevistas que ele deu, há um certo desconhecimento da realidade do Brasil”, afirmou em uma entrevista à TV Mirante, do Maranhão.
O próprio Lula também já foi alvo de críticas de Rubio no passado.
Por isso, a escolha do chefe da diplomacia americana como interlocutor é vista como delicada para o Brasil e o governo preferia que o interlocutor do lado americano fosse outro.
Por outro lado, é melhor lidar com alguém diretamente ligado a Trump e com seu aval para negociar.
Rubio tem sido criticado por mudar sua postura em relação a imigrantes e guerra na Ucrânia
Anna Moneymaker/Getty Images
Filho de imigrantes e mórmon na infância
À frente da diplomacia americana, Marco Rubio supervisiona hoje mais de 70 mil funcionários federais do Departamento de Estado e é a primeira pessoa de origem latino-americana com o cargo mais importante no governo dos Estados Unidos na história.
Rubio nasceu em Miami em maio de 1971. É o terceiro de quatro filhos de Mario e Oriales, imigrantes cubanos que se mudaram para os Estados Unidos 25 anos antes de ele nascer em busca de oportunidades.
Desde a infância, já falava sobre entrar na política. Segundo seu primo, o ex-senador de Nevada Moises (Mo) Denis, Rubio era questionador e dizia que queria ser presidente.
“Os cubanos adoram falar de política sempre que a família se reúne. Ele costumava falar de política com o nosso avô”, lembra.
A chegada nos EUA não foi fácil, mas os pais de Rubio encontraram em Miami uma comunidade de cubanos que o ajudaram, como contou à BBC Radio 4 Nelson Diaz, amigo de Rubio há 30 anos.
“Eles vieram para este país [EUA] sem nada e trabalharam em quantos empregos precisaram para garantir que seus filhos tivessem não apenas uma oportunidade melhor do que a deles, mas algo ainda muito melhor.”
Quando Rubio — ou Tony, como era chamado em casa — tinha 8 anos, sua família se mudou para Las Vegas.
Lá, seu pai trabalhou como barman do Sam’s Town Hotel, enquanto sua mãe trabalhava como camareira, limpando os quartos.
Foi nessa época que Marco Rubio, que era católico, se tornou mórmon. E também fã da banda Osmonds, formada por uma família de mórmons.
“Você tinha esse garoto de Miami, que estava cercado por cubanos católicos na Flórida. Eles foram para Las Vegas e ele se tornou um jovem mórmon incrivelmente entusiasmado, abraçou a fé e levou sua família à conversão”, escreveu Manuel Roig-Franzia, autor da biografia The rise of Marco Rubio (A ascensão de Marco Rubio, em tradução livre para o português).
Após seis anos em Las Vegas, a família Rubio retornou à Miami, e ele se converteu novamente ao cristianismo.
Chefe da diplomacia americana já fez críticas a Lula, e é visto como linha-dura na política externa e parte da ala ideológica de Trump
Joe Raedle/Getty Images
A ascensão de Marco Rubio
Rubio conseguiu ingressar na universidade graças a uma bolsa esportiva. Estudou Ciência Política e, logo depois, foi para a faculdade de Direito na Universidade da Flórida.
Foi nesse período que ele e Nelson Diaz se conheceram, ambos voluntários da campanha presidencial do senador republicano Bob Dole em 1996.
Foi também nessa época que ele ficou noivo de Jeanette, com quem se casou em 1998 e teve quatro filhos.
No fim da década de 1990, Rubio decidiu concorrer a um cargo público — um papel discreto na política local — e serviu como membro da Comissão de Governo Municipal de West Miami.
Logo em seguida, em 2000, disputou vaga na Câmara dos Deputados da Flórida, foi eleito e rapidamente ascendeu, se tornando presidente da Casa em 2005. Seu amigo Nelson Diaz tornou-se seu assessor político.
Em 2010, Rubio arriscou alto: concorreu ao Senado contra o então governador da Flórida, o democrata Charlie Crist.
Quando entrou na disputa, ele estava mais de 30 pontos atrás e quase desistiu, mas sua esposa, Jeanette, o convenceu a continuar.
Rubio venceu a eleição e, com apenas 39 anos, tornou-se senador pela Flórida.
No Senado, destacou-se inicialmente como especialista em política externa. Foi membro do Comitê de Relações Exteriores, se manifestando sobre conflitos internacionais, e um dos principais republicanos no Comitê de Inteligência do Senado.
Em 2015, decidiu que iria concorrer à presidência dos EUA no ano seguinte.
Sua campanha acabou marcada por fortes atritos com Trump, que também entrou na disputa e acabou conquistando a indicação republicana, sendo posteriormente eleito presidente.
Após ataques pessoais nas primárias das eleições de 2016, Trump e Rubio se acertaram e passaram a ter um bom relacionamento
Chip Somodevilla/Getty Images
Dos atritos com Trump à nomeação como secretário
Durante as primárias republicanas de 2016, Marco Rubio e Donald Trump travaram uma das disputas mais acirradas e pessoais da corrida presidencial.
Em seus discursos, Trump atacava Rubio, a quem chamava de “Little Marco” (Pequeno Marco, na tradução para o português). Ele tem, segundo o The Washington Post, entre 1,73 metros e 1,78 metros.
Rubio, por sua vez, não hesitou em responder de forma dura. “Ele vive me chamando de ‘Little Marco’. E admito, o cara é mais alto do que eu — tem cerca de 1,88 m. Mas não entendo por que as mãos dele são do tamanho das de alguém com 1,57 m. Vocês já viram as mãos dele?”, disse o então senador durante um discurso.
Rubio também chegou a dizer que “estava cada vez mais difícil justificar apoio” a Trump em 2016 e que ele tinha transformado a eleição em um “circo”.
As ofensas da campanha foram deixadas para trás assim que Trump chegou à Casa Branca. Segundo analistas, eles teriam se reconciliado e passaram a se dar bem, trabalhando juntos em várias pautas importantes.
Rubio apoiou Trump nas eleições de 2024, participou de comícios ao lado dele e, em novembro de 2024, foi escolhido pelo presidente eleito para ocupar um dos cargos mais altos em seu governo: Secretário de Estado.
“Ele será um grande defensor do nosso país, um verdadeiro amigo dos nossos aliados e um guerreiro feroz que não recuará diante dos nossos adversários”, disse Trump ao fazer o anúncio sobre Rubio, que respondeu: “Promoveremos a paz através da força”.
Críticas ao presidente Lula
A indicação de Marco Rubio para negociar com o Brasil foi celebrada por aliados de Bolsonaro, que buscaram minimizar a aproximação entre Trump e Lula.
“Nomear Marco Rubio como o homem de ponta de Trump é o caminho mais difícil para o Brasil — ele é um cético de longa data em relação a Lula e pode insistir em demandas relacionadas à Venezuela, China e muito mais”, escreveu o brasilianista Brian Winter, editor da revista Americas Quarterly, na rede social X.
Enquanto senador, Rubio fez críticas diretas ao presidente Lula e à relação do Brasil com a China e Venezuela.
Em uma postagem em abril de 2023, ele sugeriu que Lula seria um “radical antiamericano” devido a uma visita do presidente brasileiro à empresa de tecnologia chinesa Huawei.
Ele ainda questionou se Lula é um “aliado da democracia” após viagem à China. “Lula está pensando em si mesmo e no Brasil, mesmo que isso signifique se curvar ao regime genocida da China”, disse em publicação no X.
Rubio também disse que Lula era “o mais recente líder de extrema esquerda a encobrir a natureza criminosa do narcoregime de Maduro” devido a um encontro do presidente brasileiro com seu homólogo venezuelano, Nicolás Maduro, em maio daquele mesmo ano.
Em setembro 2024, Rubio voltou a citar o governo brasileiro por causa da suspensão do X no país.
O bloqueio foi determinado pelo ministro Alexandre de Moraes após Elon Musk, dono do X, ter descumprido uma decisão judicial e durou cerca de 40 dias.
Rubio disse que a medida, sob o governo Lula, “levantava sérias preocupações sobre a liberdade de expressão” no país.
Quando Trump anunciou em seu discurso na Assembleia das Nações Unidas que havia se encontrado com Lula, trocado um abraço e que havia uma “química” entre eles, Rubio apareceu na transmissão com uma expressão particularmente séria, em contraste com os sorrisos e bom humor do presidente americano no momento.
Ataques a Moraes em defesa de Bolsonaro
O secretário de Estado americano também fez reiteradas críticas ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, chamando-o de “violador de direitos humanos”.
Moraes foi o relator da ação que condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro por golpe de Estado. O processo foi usado como uma das justificativas dos EUA para aumentar as tarifas contra produtos brasileiros e impor sanções a autoridades brasileiras.
Em 18 de julho, Rubio anunciou na rede social X que havia ordenado a revogação do visto de Moraes, além de seus familiares e aliados, para entrar nos EUA.
O secretário do Estado justificou a medida dizendo que o ministro promovia uma política de “caça às bruxas” contra Bolsonaro que violava “direitos básicos dos brasileiros”.
Dias depois, o governo americano impôs novas sanções contra Moraes, utilizando a Lei Global Magnitsky. Na época, Rubio escreveu em sua rede social que a sanção era um “aviso para aqueles que atropelam os direitos fundamentais de seus compatriotas”.
A possibilidade de aplicação da Lei Magnitsky contra Moraes já havia sido citada pelo secretário de Estado em maio.
Após a condenação de Bolsonaro, Rubio declarou que o governo americano daria uma “resposta à altura” e novamente classificou o processo contra Bolsonaro como uma “caça às bruxas”.
“As perseguições políticas pelo violador de direitos humanos e alvo de sanções Alexandre de Moraes continuam, enquanto ele e outros ministros do Supremo Tribunal Federal do Brasil decidiram, de forma injusta, prender o ex-presidente Jair Bolsonaro. Os Estados Unidos darão uma resposta à altura a essa caça às bruxas”, afirmou o secretário de Estado em uma postagem no X.
O Itamaraty respondeu à publicação dizendo que ameaças “não intimidarão” a democracia brasileira.
Em uma entrevista à Fox News, o secretário de Estado americano voltou a atacar o STF e afirmou que a condenação de Bolsonaro era “apenas mais um capítulo de uma crescente campanha de opressão judicial que tentou atingir empresas americanas e até pessoas que operam a partir dos Estados Unidos.”
Uma semana após essas declarações, a mulher do ministro Alexandre de Moraes, a advogada Viviane Barci de Moraes, foi incluída na lista de sancionados com a Lei Magnitsky.
Guerra Rússia-Ucrânia
No passado, Rubio defendeu fortemente a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), as alianças tradicionais dos EUA e o livre-comércio — sendo duro com a Rússia e com o presidente Vladimir Putin. Ele sempre se posicionou a favor da Ucrânia e de uma conclusão rápida para a guerra.
“Queremos ver esse conflito acabar, e isso exigirá algumas escolhas muito difíceis”, disse Rubio em novembro, após a vitória eleitoral de Trump.
Mas chamou de “hipérbole acreditar que os ucranianos vão esmagar completamente o exército russo”.
Desde que assumiu como secretário de Estado, alguns políticos o acusam de ter sacrificado seus princípios, abandonando antigas convicções para manter Trump satisfeito — adotando uma política mais amistosa com a Rússia, buscando um acordo nuclear com o Irã e criticando líderes europeus.
Recentemente, em entrevista ao podcast The Megyn Kelly Show, Rubio afirmou que os EUA não estão abandonando seus aliados tradicionais, apenas se ajustando de uma mentalidade do pós-Guerra Fria às realidades da nova ordem mundial.
“Porque somos a única potência do mundo, e assumimos essa responsabilidade de, de certo modo, nos tornarmos o governo global, tentando resolver todos os problemas. Mas eventualmente pode chegar o momento em que o mundo voltará a ser multipolar — com grandes potências em diferentes partes do planeta. É o que enfrentamos agora com a China e, em certa medida, com a Rússia.”
Cessar-fogo em Gaza
Em relação à Gaza, Rubio chegou a se manifestar contra um cessar-fogo. Em 2023, quando questionado por ativistas no Capitólio se apoiaria o fim dos combates, ele disse firmemente que não.
“Pelo contrário… quero que eles destruam todos os elementos do Hamas em que puderem colocar as mãos. Essas pessoas são animais cruéis que cometeram crimes horríveis.”
A intenção de Israel com seus combates, disse Rubio, é “destruir a organização terrorista para que ela nunca mais ameace o povo de Israel”.
Mas sua postura mudou como secretário de Estado.
Durante o anúncio da primeira parte do acordo de cessar-fogo entre Hamas e Israel, na semana passada, Rubio elogiou os esforços de Trump e disse que o acordo teria “sido impossível” sem o presidente americano.
China é uma ‘grande ameaça’
Rubio expressou posições linha-dura em muitas regiões do mundo, mas a China tem sido seu principal alvo.
A China é “o maior e mais avançado adversário que os Estados Unidos já enfrentaram”, disse ele em um artigo de opinião publicado no Washington Post em setembro.
Ao discutir o plano “Made in China 2025” de Pequim, que busca modernizar seu setor manufatureiro, Rubio pediu que os EUA criassem uma nova política industrial para impedir que a China “eclipsasse completamente os Estados Unidos na década seguinte”.
“A questão é que os formuladores de políticas dos EUA não podem se dar ao luxo de ser complacentes com o maior e mais avançado adversário que os Estados Unidos já enfrentaram”, escreveu Rubio.
Ele também defendeu veementemente a independência de Taiwan.
“A China comunista não é, e nunca será, amiga das nações democráticas”, escreveu Rubio no X, antigo Twitter, em agosto de 2024. “A comunidade internacional deve continuar a apoiar Taiwan na defesa de sua soberania e liberdade.”
Nas primárias de 2016, Rubio protagonizou diversos embates com Trump, e chegou a dizer que ele transformou a eleição em um circo
Justin Sullivan/Getty Images
Candidato à Presidência em 2028?
Dada sua ascensão dentro do governo e trajetória política, especula-se que Marco Rubio seja candidato à Presidência em 2028.
Trump não pode concorrer de novo. No programa Meet the Press da NBC, em maio, o presidente americano chegou a mencionar seu chefe de Estado como possível sucessor.
Para o autor da biografia de Rubio, Manuel Roig-Franzia, não há dúvidas que esse seja seu objetivo.
“Acho que, desde o primeiro dia em que entrou na política, Rubio já se via no Salão Oval”, disse à BBC Radio 4.
“Isso sempre esteve lá, o impulsionando — desde sua trajetória na comissão da pequena cidade, passando pela legislatura da Flórida, até o Senado e agora o gabinete presidencial. É um caminho que ele traçou cedo e no qual ainda está.”

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