A projeção de Mercator mostra o continente africano menor do que realmente é.
BBC
A União Africana, a organização que reúne todos os Estados africanos, aderiu nesta segunda-feira (18/8) a uma campanha para que se deixe de utilizar a projeção de Mercator nos mapas-múndi.
A campanha, chamada Correct The Map (“corrijam o mapa”, em inglês), busca evitar que governos, organizações, escolas e empresas representem o continente africano menor do que ele realmente é.
“Pode parecer que é só um mapa, mas, na verdade, não é”, disse à agência Reuters a vice-presidente da Comissão da União Africana, Selma Malika Haddadi.
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A projeção de Mercator, inventada no século XVI pelo cartógrafo europeu Gerardus Mercator, mostra maiores os territórios mais próximos aos polos, como a América do Norte e a Europa, em relação àqueles situados perto da linha do Equador, como a África e a América do Sul.
Essa foi a solução que Mercator encontrou para um problema matemático: representar em uma superfície plana um planeta esférico.
Comparativo das projeções cartográficas
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A campanha Correct The Map promove a adoção de uma projeção conhecida como Equal Earth, que reflete com maior precisão o tamanho dos continentes.
Os mapas-múndi que seguem a projeção de Mercator são os usados por padrão em aplicativos como o Google Maps, e são possivelmente os que mais moldaram nossa imagem mental do planeta.
“Durante mais de 450 anos, baseamos nossa compreensão da África e do mundo em um mapa que é equivocado”, diz o site da Correct The Map.
O movimento defende que a distorção no tamanho dos continentes no mapa é uma questão de “poder e percepção”.
A diretora-executiva da Africa No Filter, uma das organizações por trás da campanha, qualificou a projeção de Mercator como “a maior campanha de desinformação”.
Este mapa-múndi, que usa a projeção de Mercator, mostra a Groenlândia de tamanho semelhante à África. Na realidade, o continente tem uma área 14 vezes maior.
Getty Images via BBC
Um problema matemático
É matematicamente impossível projetar de maneira exata uma superfície curva como a da Terra em uma plana, como papel ou tela.
Por isso, todos os mapas da superfície terrestre são necessariamente distorcidos. Dependendo da técnica utilizada para criá-los, o tamanho, a forma e a localização dos continentes mudam.
Os cartógrafos sabem desse problema há séculos e o solucionam de acordo com o uso que se pretende dar ao mapa.
Mercator fez sua famosa projeção, que se tornou a mais popular da história, pensando em uma necessidade específica: a navegação.
E conseguiu que, usando seu
mapa-múndi, um navegador soubesse em que direção deveria seguir segundo a bússola para ir de um ponto a outro.
O problema da projeção de Mercator é que ela exagera o tamanho dos países à medida que se afastam da linha do Equador.
Isso ocorre porque é uma projeção cilíndrica, que apresenta os meridianos como linhas paralelas equidistantes.
Na realidade, os meridianos são linhas que se encontram nos polos; ou seja, a distância entre eles vai diminuindo à medida que se afastam do Equador.
A distorção característica da projeção de Mercator faz com que, por exemplo, Groenlândia e África pareçam de tamanho semelhante, quando na realidade o continente africano é cerca de 14 vezes maior.
O Brasil, por sua vez, é cinco vezes maior que o Alasca, embora no mapa aparentem ter dimensões parecidas.
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