A investigação do PIX em processo aberto pelo Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês) não impedirá o andamento da a chamada “agenda evolutiva” da ferramenta de transferência — que prevê novas funcionalidades no futuro.
Segundo o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, a instituição está trabalhando em uma novidade que permitirá que o PIX viabilize, pelos bancos, um tipo de crédito consignado para trabalhadores autônomos e empreendedores do setor privado.
“O PIX em garantia se assemelha ao que você pode considerar um crédito consignado [com desconto em folha de pagamento], mas olhando o que está acontecendo com a sociedade, onde a gente vê cada vez mais crescer a fatia da população que vai buscar seu autônomo, vai buscar ser empreendedor, e não trabalha com carteira assinada, não tira sua renda de um modelo de contrato CLT, de carteira assinada, e sim do empreendedorismo, e de alguma maneira de trabalho autônomo”, disse Galípolo, nesta semana.
➡️No chamado “PIX em Garantia”, que está previsto para ser lançado em 2026, os empreendedores e trabalhadores autônomos (microempreendedores individuais, por exemplo) poderão dar, em garantia de empréstimos bancários, “recebíveis futuros”, ou seja, transferências que irão receber por meio do PIX.
➡️Pela lógica da nova ferramenta, as transferências que os trabalhadores e microempresas têm a receber ficam conectados aos empréstimos, como garantias. E os valores serão retirados da conta mensalmente no dia combinado.
➡️A ideia é que, com essas garantias, o crédito ofertado pelas instituições financeiras para os empreendedores autônomos tenha juros menores, a exemplo do que ocorre com os trabalhadores formais que dão o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
“Através da chave PIX, o banco, ou a instituição que vai dar o crédito, consegue ter uma percepção de qual é o custo de receita que aquela pessoa tem ao longo do mês e criar uma hierarquia para que ela possa usar como colateral [garantia] esse fluxo do PIX para poder tomar um dinheiro emprestado”, acrescentou Galípolo, do Banco Central.
Lula sugere que Trump faça uma experiência com o PIX nos EUA
Agenda evolutiva do PIX
Em meio à confusão sobre o tarifaço de Donald Trump e investigações sobre o PIX, o Banco Central continua desenvolvendo a ferramenta, e promete novidades para o futuro.
➡️Em outubro do ano passado, a instituição iniciou o PIX Agendado Recorrente.
A modalidade do PIX permite que qualquer pessoa agende pagamentos de mesmo valor de forma recorrente, para cair na conta do recebedor sempre no mesmo dia de cada mês.
Funciona, por exemplo, para quem paga aluguel diretamente para outra pessoa física e quer automatizar os pagamentos mensais.
➡️Em fevereiro, algumas instituições financeiras começaram a disponibilizar o PIX por aproximação aos seus clientes.
A modalidade permite que os clientes paguem contas com o PIX apenas aproximando o celular da máquina do lojista, como é feito com cartões de crédito e débito.
➡️E, em junho deste ano, o BC lançou o PIX Automático, uma nova modalidade de pagamento para contas recorrentes, como de energia, de água, mensalidades escolares, taxas de condomínio e assinaturas.
➡️O Banco Central segue trabalhando para adotar, no futuro, o PIX internacional, que já é aceito em alguns países, como Argentina; Estados Unidos (Miami e Orlando) e Portugal (Lisboa), entre outros. O BC avalia que o formato atual de utilização do PIX, em outros países, é “parcial”, focada em estabelecimentos específicos. A ideia é que no futuro os pagamentos transfronteiriços possam ser feitos de forma definitiva entre países. Ainda não há uma data definida.
➡️A instituição também segue focada no desenvolvimento do chamado “PIX Parcelado”, previsto para setembro. A novidade possibilitará o parcelamento de compras pelos clientes no futuro com base nesse sistema de pagamentos. Segundo o BC, a ferramenta poderá ser uma alternativa de parcelamento para 60 milhões de pessoas que não têm cartão de crédito no país.
Pessoa segurando celular na área Pix de aplicativo bancário
Bruno Peres/Agência Brasil
Investigação dos EUA
Com o aumento de tensões com os EUA, o Escritório do Representante de Comércio do país (USTR, na sigla em inglês) informou no mês passado que o PIX está sendo investigado em processo aberto pelo governo norte-americano.
No documento, o governo norte-americano não cita especificamente o nome do sistema PIX, mas fala em “serviços de comércio digital e pagamento eletrônico”, inclusive aqueles do governo. O PIX é o único sistema do governo para esse fim.
“O Brasil também parece se envolver em uma série de práticas desleais com relação a serviços de pagamento eletrônico, incluindo, mas não se limitando a favorecer seus serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo”, diz o USTR.
➡️Para especialistas ouvidos pelo g1, aspectos como o embate com as big techs e a concorrência com bandeiras de cartões de crédito americanas ajudariam a explicar a ofensiva dos EUA. Eles dizem que não há, porém, razões consistentes para questionar o serviço de pagamento.
➡️Nesta semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarou que o Brasil não pode “nem sonhar” em privatizar o PIX. Para ele, alterar o PIX seria ceder às “pressões internacionais” contra a tecnologia brasileira de pagamentos.
