Veja altos e baixos da relação atual entre Putin e Trump
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recebeu no Alasca na sexta-feira (15) o presidente da Rússia, Vladimir Putin. O encontro terminou sem que nenhuma proposta concreta de cessar-fogo na Ucrânia fosse apresentada.
A reunião foi a primeira entre os dois líderes desde 2018, e a primeira vez em quase dez anos em que Putin pisou em solo americano.
O encontro desta sexta marca o ponto culminante de uma relação de altos e baixos entre Washington e Moscou desde que Trump retornou à Casa Branca, em 21 de janeiro. Desde então, os dois presidentes trocaram acenos e ameaças — ensaiando uma reaproximação para, meses depois, o americano ameaçar o Kremlin com sanções.
A Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022, dando início a uma guerra que dura desde então. Trump, que havia mantido relações amistosas com Putin em seu primeiro mandato, afirmou durante a campanha, em 2024, que o conflito jamais teria começado caso ele fosse o presidente.
O republicano pareceu adotar uma postura pró-Kremlin em seus primeiros meses de volta à Casa Branca, humilhando o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, em visita a Washington em fevereiro.
Com o passar do tempo e sem sinais de fim dos conflitos — que Trump havia prometido acabar “em 24 horas” após assumir o segundo mandato —, o americano passou a mirar Putin em suas declarações.
Putin e Trump rindo após se encontrarem
ANDREW CABALLERO-REYNOLDS / AFP
Veja as declarações que Trump e Putin já deram um sobre o outro desde janeiro:
Janeiro e fevereiro
Ao voltar à Casa Branca, Trump se mostrou reticente em suas críticas ao líder russo. Putin, por sua vez, fez um aceno ao republicano ao concordar com a mentira de que as eleições presidenciais de 2020, vencidas por Joe Biden, teriam sido fraudadas.
Em fevereiro, durante uma visita de Zelensky, Trump bateu boca com o líder russo e o chamou de “desrespeitoso”.
Trump, 21/1/2025
Ao ser questionado se vai colocar sanções adicionais à Rússia.
“Parece provável.”
“A guerra nunca deveria ter começado. Se você tivesse um presidente competente, o que não aconteceu, a guerra não teria acontecido. A guerra na Ucrânia nunca teria acontecido se eu fosse presidente.”
Putin, 21/1/2015
“Com o atual presidente dos EUA, sempre tive relações comerciais, exclusivamente comerciais, mas, ao mesmo tempo, pragmáticas e de confiança. Não posso discordar dele que, se ele fosse presidente, se sua vitória não tivesse sido roubada em 2020, talvez não houvesse a crise na Ucrânia que surgiu em 2022.”
Março
Naquele mês, um cessar-fogo parcial no Mar Negro foi acordado entre Rússia e Ucrânia, costurado pela Ucrânia. Considerado uma vitória para a diplomacia americana, no entanto, ele não prosperou no longo prazo, e a guerra mais ampla seguiu sem previsão de resolução.
Trump, 12/3/2025
“Nós obtivemos um grande sucesso ontem.Tivemos um [acordo para] cessar-fogo total. Quando ele entrar em vigor, temos que ver. Agora depende da Rússia. Mas, na verdade, temos um bom relacionamento com ambas as partes. E veremos e saberemos… Pessoas estão indo para a Rússia neste exato momento, e esperamos que consigamos um cessar-fogo com a Rússia.”
Putin, 14/3/2025
“Ao mesmo tempo, compreendemos o apelo do presidente Trump para que sejamos guiados por considerações humanitárias em relação a esses militares. Nesse sentido, gostaria de enfatizar que, se eles depuserem as armas e se renderem, terão garantida a vida e um tratamento digno, de acordo com o direito internacional e as leis da Federação Russa.”
Maio a agosto
Sem perspectiva de acordo no conflito, Trump passou a ser cobrado por sua promessa de encerrar o conflito rapidamente em seu segundo mandato. Enquanto um acordo para a Europa reforçar as defesas da Ucrânia se desenhava, Trump passou a atacar Putin em suas falas.
Só em agosto, com a confirmação da reunião entre os líderes no Alasca, o presidente americano voltou a moderar o tom ao falar de seu colega russo.
Trump, 8/7/2025
“Putin diz muita besteira, se quer saber a verdade. Ele é muito gentil o tempo todo, mas acaba sendo inútil.”
Trump, 14/7/2025
“Uma das razões pelas quais vocês estão aqui hoje é para ouvir que estamos muito descontentes, eu estou, com a Rússia, mas talvez discutiremos isso em outro dia. Mas estamos muito, muito descontentes com eles e vamos aplicar tarifas muito severas se não chegarmos a um acordo em 50 dias. Tarifas de cerca de 100%, vocês as chamam de tarifas secundárias, vocês sabem o que isso significa.”
Putin, 7/8/2025
Ao ser questionado sobre quem propôs uma reunião presencial entre ele e Trump:
“Ambos os lados demonstraram interesse. Quem disse o quê primeiro não importa.”
Trump, 11/8/2025
“Vou me encontrar com o presidente Putin e veremos o que ele tem em mente. E, se for um acordo justo, vou revelá-lo aos líderes da União Europeia, aos líderes da Otan e também ao presidente Zelensky. Acho que, por respeito, vou ligar para ele primeiro. E ligarei para eles depois. E eu posso dizer ‘boa sorte, continuem lutando’, ou posso dier ‘podemos fazer um acordo’.”
Antes da reunião
Vladimir Putin elogiou os “esforços sinceros” de Washington para solucionar a guerra na Ucrânia e disse achar que o cara a cara com Trump pode selar a “paz mundial”. Mas ponderou que isso só ocorrerá caso haja um acordo para restringir o uso de armas estratégicas, incluindo as nucleares, já sugerindo uma tentativa de barganhar algo em troca de um cessar-fogo na Ucrânia.
Trump também enviou mensagens dúbias nos últimos dias: se mostrou esperançoso e disse que “acho que ele (Putin) fará um acordo”, mas admitiu que “nada está garantido. Será como uma partida de xadrez”. E, mesmo munido de autoconfiança como negociador, o líder norte-americano e seu governo foram baixando as expectativas ao longo dos últimos dias.
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Territórios
Entenda a ocupação russa na Ucrânia
Arte/g1
Uma certeza que ambos os lados apontam é que o debate pelas regiões ucranianas atualmente ocupadas por tropas russas será o ponto central das negociações. Segundo o Instituto para o Estado da Guerra (ISW, na sigla em inglês), Moscou controla militarmente cerca de 20% de todo o território ucraniano.
E nenhum dos lados sinalizou querer abrir mão dessas regiões.
No início ano, quando Trump ensaia uma aproximação com Putin, os EUA já chegaram a mencionar que a única solução para o fim da guerra que já dura três anos e meio, a Ucrânia teria de abdicar desse território.
Depois, voltou atrás e disse que negociaria essas áreas com o Kremlin. Nesta semana, o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, voltou a dizer que não quer nem pode ceder as áreas ocupadas.
Ao longo da semana, Zelensky, já ciente de que estava excluído do encontro, se reuniu com uma série de líderes europeus, com quem também telefonou para Trump. Do líder norte-americano, conseguiram a garantia de que nenhum acordo para um cessar-fogo seria fechado sem o conhecimento e autorização de Kiev.
E Trump disse que um segundo encontro no Alasca pode ter a presença do ucraniano.
Presidentes Donald Trump e Vladimir Putin se cumprimentam no início de encontro em Helsinque, na Finlândia, em 2018
Kevin Lamarque/ Reuters
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