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quarta-feira, setembro 24, 2025
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‘Quase famosos’, 25 anos depois: o filme que fez uma geração querer viver de música

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‘Quase famosos’: veja o trailer
Quando eu tinha 15 anos, decidi ser jornalista por um motivo nada nobre: ganhar CDs de graça. Pouco tempo depois, encontrei um motivo mais nobre: ir a shows de graça. Às vésperas do vestibular, acabou parando na minha mão um DVD de “Quase Famosos”. Vi minha ideia de ser jornalista musical condensada em duas horas e dois minutos de sessão.
Entendi que era possível viver de música sem holofotes na cara. Bastava escrever e falar sobre ela. O filme, que completa 25 anos, não foi importante só para mim. Nos anos seguintes, “Quase Famosos” foi resgatado por uma geração que não tinha idade para vê-lo no cinema. Virou referência de iniciação musical e até um pouco ortodoxo manual de jornalismo.
O cineasta (e jornalista musical) Cameron Crowe sabia o que estava fazendo. Adolescente nos anos 70, ele foi contratado pela revista “Rolling Stone” quando deveria estar no ensino médio. Transformou essa adolescência atípica no melhor roteiro original do Oscar em 2001. Também venceu dois Globos de Ouro: o de Melhor Filme (Comédia ou Musical) e o de Atriz Coadjuvante para Kate Hudson.
O elenco de ‘Quase Famosos’ (2000)
Divulgação/Dreamworks
A “Rolling Stone”, exaltada pelo filme, disse que “Quase Famosos” era “um clássico instantâneo sobre amadurecimento e música”. Sites que agregam críticas de vários veículos, o Rotten Tomatoes registra 89% de aprovação e o Metacritic contabiliza nota 90 de 100. Era fácil se render a essa “carta de amor ao jornalismo musical”, como bem definiu Crowe.
O filme foi tão poderoso que deu uma segunda chance para “Tiny Dancer”, canção de Elton John usada em uma cena crucial no ônibus de turnê da banda fictícia Stillwater. Mas “Quase Famosos” não é só nostalgia por rock clássico, shows em arenas e bloquinhos cheios de anotações.
O aprendiz de jornalista William Miller se vê em um dilema: contar todos os podres da banda que admira ou escrever um texto se esquecendo de tudo o que viu enquanto acompanhava aquela conturbada turnê?
Mesmo com a tentação de pegar leve com a banda (e talvez se tornar amiguinho dela), o garoto prefere fazer o que repórteres de música (ou de qualquer ramo) devem fazer. Reportar. O menino foi lá e contou tudo: brigas, dificuldade de lidar com a fama, quase acidentes, drogas, ego e muito mais.
Michael Angarano, Patrick Fugit e Cameron Crowe nos bastidores de ‘Quase Famosos’ (2000)
Divulgação/Dreamworks
Com o sucesso deste filme e do anterior (“Jerry Maguire”), Crowe largou o jornalismo. Mas ele viveu mais baixos do que altos como cineasta graças a projetos que mostraram como é difícil repetir o acerto de uma obra semiautobiográfica. E ele já contou que ainda recebe mensagens de jovens repórteres que se escolheram essa profissão por causa dele.
Lester Bangs (1948-1982), crítico vivido por Philip Seymour Hoffman no filme, é uma espécie de mentor do protagonista. É também a síntese de um estilo que talvez não exista mais.
Nos anos 70, Bangs escrevia na revista “Creem” textos com sarcasmo e exagero. Era cruel, engraçado, incômodo. Críticos como ele acreditavam que sua função era cutucar, nunca massagear o ego do artista. É de Lester a frase: “Artista não é amigo e eles só fingem que são nossos amigos para gente falar bem deles”.
Philip Seymour Hoffman interpretou o crítico Lester Bangs em ‘Quase Famosos’ (2000)
Divulgação/Dreamworks
A maior parte do jornalismo musical de hoje parece ter esquecido disso. A partir dos anos 2000, a cultura pop se tornou mainstream e a resenha ácida perdeu muito de seu espaço. O crítico atual precisa sorrir. Precisa ser solar, quase um influenciador.
É mais fácil falar bem do que suportar o ódio de um fandom organizado. Taylor Swift, por exemplo, indica resenhas que gosta e marca o perfil dos jornalistas. Quem não gostaria de um endosso de uma das maiores popstars do mundo? O risco é que, nesse jogo, a crítica deixa de ser crítica e pode virar publi disfarçada.
Em “Quase Famosos”, Lester Bangs e William Miller são popstars das palavras. Hoje, muitos críticos fazem de tudo por uma selfie com o popstar de verdade.

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