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Rosalía serve a Deus e à música clássica em álbum suntuoso, mas sério demais; leia crítica

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Rosalía serve a Deus e à música clássica em novo álbum
Título: “Lux”
Artista: Rosalía
Nota: 8/10
O novo álbum da cantora espanhola Rosalía deve proporcionar ao público uma experiência semelhante à de visitar uma catedral antiga, dessas que são incluídas em roteiros turísticos. Essas igrejas são grandiosas, cheias de detalhes e a maioria das pessoas não entende muito bem o significado de tanta ornamentação. Observar tudo isso pode ser fascinante, até catártico — mas também pode ser um completo tédio.
O g1 já ouviu “Lux”, novo álbum de Rosalía; veja análise no vídeo acima e saiba mais no texto abaixo.
Catedrático é uma boa definição para “Lux”, que chega nesta sexta-feira (7). Não só pela imponência do trabalho, mas também pelo ar professoral com o qual a artista de 33 anos apresenta suas 18 novas músicas (incluindo três que, pelo menos a princípio, estarão disponíveis apenas em formatos físicos: CD e vinil).
Capa do álbum “Lux”, de Rosalía
Divulgação
Formada em musicologia na Escola Superior de Música da Catalunha, em Barcelona, Rosalía decidiu, em seu quarto álbum de estúdio, ensinar sobre música clássica aos fãs de pop. A coragem para mudar completamente o repertório — mesmo que isso não agrade todo mundo — é um dos trunfos da carreira da cantora.
Em 2018, ela ficou mundialmente conhecida reinventando as tradições do flamenco espanhol no álbum “El Mal Querer”, criado como projeto de conclusão de seu curso na Escola de Música. O TCC recebeu notas tão altas da crítica musical que, em 2022, todo mundo achou que Rosalía seguiria a mesma linha. Mas ela apareceu fazendo uma mistura frenética de gêneros no também ótimo “Motomami”, com direito até a bateria de escola de samba. O álbum deu origem a uma turnê inovadora, que virou referência no mercado de espetáculos.
Rosalía apresenta turnê do disco “Motomami” no Lollapalooza 2023 em São Paulo
Fábio Tito/g1
Para o “Lux”, o marketing incluiu a divulgação em outubro da partitura de uma das faixas, o que levou fãs do mundo todo a tentarem adivinhar a melodia da canção usando diferentes instrumentos. Embora os mais deslumbrados tenham achado disruptiva a ideia de misturar pop e música clássica, isso não é exatamente uma novidade. Muita gente já fez: de Sade a Liniker.
A diferença aqui é o tamanho do destaque que Rosalía dá a esses elementos no novo disco, dividido em movimentos, como um concerto. A estética erudita influencia, inclusive, seu jeito de cantar, que em vários momentos passa do estilo mais áspero do flamenco para um canto mais próximo do lírico.
É claro que, na maioria das vezes, a embalagem é pop. Em músicas como “Reliquia”, o arranjo orquestrado serve muito bem para criar um som fresco, atual e globalizado. Na letra autobiográfica, a cantora reflete sobre suas viagens pelo mundo, e como cada lugar pelo qual passou a transformou de certo modo. Em entrevistas, Rosalía tem falado que as experiências fora de seu país de origem e o olhar curioso para outras culturas foram determinantes para o resultado do álbum. As músicas são cantadas em 13 idiomas, incluindo português (com sotaque de Portugal), no fado “Memória”.
Rosalía chega ao Met Gala 2025
Dia Dipasupil / Getty Images via AFP
É quando Rosalía se entrega verdadeiramente ao conceito do “Lux” que o trabalho se torna mais poderoso. “Mio Cristo” é um hino de adoração, que facilmente poderia ser ouvido dentro de uma igreja. A interpretação intensa da cantora é capaz de emocionar até os mais hereges.
A religião é um tema central do trabalho. Ao longo das músicas, a artista reflete sobre sua relação com Deus e o mistério da vida, a partir de uma perspectiva feminina.
As faixas têm paralelos com histórias de santas da Igreja Católica. Na balada ao piano “Sauvignon Blanc”, sobre desapegar-se dos bens materiais em nome do amor, Rosalía esconde Santa Teresa de Ávila, que abriu mão das posses de uma família rica para seguir o caminho da devoção. Em “Berghain”, divulgada em outubro como primeiro single, ela canta em alemão inspirada por Hildegard von Bingen, monja beneditina alemã conhecida pela atuação nas mais diversas áreas: da música à medicina natural. O disco é um prato cheio para quem gosta de pesquisar referências.
Entre violinos, violoncelos, frases em árabe, latim, ucraniano e japonês, Rosalía fez um disco suntuoso, que às vezes até parece ter muita coisa, mas quase nenhum respiro.
Faixas que se propõem a isso, como a valsinha “La Perla” (com indiretas a ex-namorados), soam simplórias e inofensivas na sequência. A exceção é “Novia Robot”, a mais divertida e dançante, que — talvez numa bem pensada estratégia — ficou para o trio de músicas exclusivas dos formatos físicos.
Para quem não vai comprar o CD ou o vinil, melhor não esperar nada para ouvir nas pistas ou fazendo faxina. Não é essa a vibe. Muita gente vai sentir falta da leveza caótica presente nos trabalhos anteriores da cantora, e vai achar o “Lux” sério ou dramático demais. Tudo isso pode ser bem chato, mas olhar os detalhes com interesse também pode render uma experiência inesquecível.

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